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Brasil é o 7º país no ranking de confiança na imprensa

Dados de uma pesquisa feita pelo Instituto Reuters de Estudos de Jornalismo da Universidade de Oxford mostram que 54% dos brasileiros afirmam confiar na imprensa. A porcentagem faz com que o país seja o 7º no ranking mundial de confiança nessa classe. A certeza na mídia aumentou 3 pontos no Brasil e foi a que apresentou maior crescimento. Já a média global subiu 6 pontos: 44% da população mundial disse que confia na maioria das notícias que recebe.

O brasileiro é também o mais preocupado com as fake news. Seis a cada 10 entrevistados (58%) expressou cuidado em diferenciar o que é verdadeiro ou falso na internet. A análise mostra também que o país tem a população mais atenta no que diz respeito à desinformação no mundo (82%). É também a mais preocupada com o WhatsApp como canal de fake newssobre a COVID-19 (35%) e a que mais associa os políticos à desinformação sobre a doença (41%).

A professora de jornalismo Tatiana Ferraz, da Faculdade Cásper Líbero, reconhecida pela tradição na área da comunicação e considerada como uma das melhores do Brasil, explica que a relação entre sociedade e imprensa foi sendo construída aos poucos. “Os grandes meios de comunicação sempre foram ligados a grupos econômicos que tinham um ponto de vista mais favorável a lados que pudessem gerar apoio político. Atualmente, a imprensa tem a sina de ser atacada por ser ‘mensageira’ das notícias que quase nunca agradam. Cabe ao jornalista ser o intermediário entre o fato e o público. Mas é importante ressaltar sempre que a imprensa não cria a notícia, ela só a reporta”.

Para a presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) Maria José Braga, alguns fatores contribuem para a alta nessa confiança. “O primeiro é que a imprensa brasileira (essa instituição difusa e plural), mesmo com muitos problemas, cumpre um papel relevante na difusão de informações de interesse público. Outra questão que nos parece evidente é a propagação de notícias falsas e/ou fraudulentas no Brasil, que se tornou um fenômeno e, por isso, provocou efeito contrário: a busca por dados confiáveis”.

Por último, ela cita a pandemia. “A cobertura da mídia, em sua maioria, cumpriu o seu papel: esclarecer a sociedade. Além disso, tem sido responsável por dar voz aos cientistas e médicos, trabalhando contra a desinformação e o negacionismo”.

A presidenta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG), Alessandra Mello, ressalta que essa confiança é algo relevante, principalmente, pela onda de ataques que a imprensa tem sofrido. “Não há uma semana em que um jornalista não seja agredido verbal, fisicamente ou perseguido nas redes sociais. Isso é preocupante e piora quando a gente lembra que temos no comando do Brasil uma pessoa que não tem o menor respeito pela classe”.

Segundo Alessandra, o atual governo desmerece a informação. “Tenta, a todo custo, nos desacreditar, além de pregar a violência contra os jornalistas. Então é muito importante que, enquanto o presidente faz essa campanha contra a imprensa, nós tenhamos a população dando esse respaldo em torno do nosso trabalho”.

Exatamente o que diz o engenheiro Bruno Martinele, que já inicia o dia acompanhando diferentes noticiários. Ele atribui à imprensa o papel de auxiliar a sociedade em importantes temas, como a escolha de representantes políticos. “Tem muita coisa que se não fosse pela mídia nós não saberíamos. Independentemente de lado político, o jornalismo traz provas, documentos e fatos. Isso auxilia os governantes a mudar o que é preciso e a toda a população na hora de escolher, nas eleições, alguém que atenda aos nossos interesses”.

Ele observa que é comum que políticos com caráter mais ditatório tente descredibilizar a imprensa. “E isso me preocupa, pois a população para de acreditar em canais sérios, nos quais profissionais fazem um jornalismo legítimo e com credibilidade. Assim, elas passam a se informar de maneira parcial, às vezes por meio de notícias passadas pelo próprio político”.

Para o engenheiro, essa é uma questão grave. “O pior caminho possível é ir contra a mídia, afinal, esses profissionais estão aí para aclarar a população sobre o que está acontecendo. E quando um jornalista faz uma pergunta a um governante sobre algo que é da responsabilidade dele e recebe uma resposta exaltada, com ataques ou o silêncio, mostra que há repressão. O que é um absurdo sem tamanho, pois isso é algo que vivemos em um passado recente e que não pode se repetir”.

A presidenta da Fenaj conclui dizendo que essa revalorização do jornalismo é fundamental. “As sociedades que querem ser democráticas precisam da imprensa. É por isso que o governo brasileiro tem um projeto autoritário do ponto de vista político (e neoliberal do ponto de vista econômico). Ataca a imprensa para descredibilizá-la. O presidente faz isso para manter seus apoiadores longe da informação verdadeira e se informando pelas bolhas bolsonaristas. Com isso, ainda consegue manter um considerável grupo de apoio”.