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Homens ganharam quase 30% a mais do que as mulheres em 2019

Considerando todos os trabalhos, a renda das mulheres foi 28,7% menor que dos homens no ano passado, segundo módulo Rendimento de Todas as Fontes, da PNAD Contínua, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o levantamento, enquanto eles receberam R$ 2.555, acima da média nacional de R$ 2.308, elas ganharam R$ 1.985.

Outra informação do material é de que, apesar de mais da metade da população em idade de trabalhar ser formada por mulheres (52,4%), os homens representavam 56,8% da parcela que efetivamente trabalhava. Um dos motivos para essa discrepância é que parte das mulheres não podem trabalhar porque não contam com creche para deixar os filhos.

A preponderância dos homens no mercado de trabalho foi uma realidade em todas as grandes regiões do país, sendo que o Norte teve a menor estimativa de mulheres trabalhando (38,7%). O Sudeste (44,5%), o Sul (43,8%) e o Centro-Oeste (43,3%) registraram as maiores participações femininas na ocupação em 2019. Já o Nordeste (41,8%) teve o maior avanço percentual desde 2012, início da série histórica.

Os números que evidenciam os rendimentos masculinos superiores a femininos não tiveram variações bruscas em relação aos dados anteriores e isso não surpreende Felícia Pincaço, socióloga especialista em mulher e trabalho e pesquisadora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“A diferença salarial é parte de um sistema reprodutor de desigualdades de gênero, nesse sentido é tanto efeito como causa. É efeito das percepções tradicionais de gênero que determinam que as mulheres devam ser responsáveis pelas tarefas domésticas e de cuidados com os dependentes, portanto são menos produtivas e disponíveis para o trabalho remunerado. Também do pensamento de que elas não são capazes de realizar determinadas tarefas ligadas ao comando, racionalização, lógica e força, pois suas habilidades naturais são de cuidados, multitarefas cotidianas e compreensão. Isso também causa impacto na autonomia financeira das mulheres, na medida em que salários mais baixos, ampliam a dependência da renda dos parceiros para a reprodução da família”, explica a pesquisadora.

Outro fator é que a participação no mercado de trabalho também variou conforme a cor da pele. No ano passado, os brancos eram 44,8% da população ocupada, enquanto os pardos 43,7% e os pretos, 10,4%. Os dados da pesquisa mostram, porém, que a participação de brancos caiu 4,1 pontos percentuais desde 2012. Já a ocupação de pretos e dos pardos subiu 2,3 e 1,5 pontos percentuais, respectivamente.

Felícia explica que a desigualdade salarial também tem recortes dentro do próprio gênero feminino. “As mulheres com maiores níveis de educação e renda contratam trabalhadoras domésticas, em sua larga escala pobres e negras, para realizar a grande parte das tarefas de casa e, com isso, estão mais liberadas para a dedicação ao trabalho remunerado”, diz. A socióloga acrescenta que esta não é uma questão apenas de países pobres. “O Japão pode ser lembrado como caso exemplar: elevado nível socioeconômico, mas com percepções e práticas de divisão de tarefas domésticas muito tradicionais”.

Para pesquisadora, existem duas saídas para esse problema milenarmente enraizado. “A primeira é urgente: desenvolvimento de políticas públicas de suporte às famílias, em especial, creche e escolas públicas e de qualidade em tempo estendido, que permita alcançar a real jornada de trabalho. A segunda, não menos urgente, é a educação/socialização dos homens e mulheres voltada para percepções igualitárias de gênero em relação aos lugares de homens e de mulheres na esfera pública e divisão das tarefas de reprodução da família, como realização dos afazeres domésticos e de cuidados com os dependentes”.