Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país encerrou 2018 com 12,2 milhões de pessoas desempregadas. Desse total, os que se autodeclararam pardos representam 51,7%, enquanto negros somam 12,9%. O número de desocupados brancos é de 34,6%. Entretanto, a crise no mercado de trabalho também evidencia a questão da desigualdade racial, refletida em discrepâncias salariais e de ocupações. Sobre o tema, o Edição do Brasil conversou com Alexandre Braga, presidente da União de Negros pela Igualdade de Minas Gerais (Unegro/MG).
Há diferenças salariais entre negros e brancos?
Sim, um trabalhador negro recebe, em média, 50% menos que um branco na mesma função e com a mesma formação técnica. Um relatório do IBGE de 2017 mostrou que o salário médio de um negro no Brasil era de R$ 1.545 contra R$ 2.924 dos brancos. E essa diferença se revela tanto nas camadas mais pobres da população quanto entre as mais ricas. Ainda segundo esse estudo, o salário de um branco pobre é, em média, 46% maior do que o rendimento de um negro pobre, R$ 965 contra R$ 658.
As ocupações são igualitárias?
Não, porque os negros estão na base das profissões menos valorizadas, como motoristas, faxineiros, domésticas, garis e porteiros. Essas ocupações são menos valorizadas não só no sentido profissional, mas na questão do poder financeiro, da capacidade de comprar alimentos e pagar por uma boa moradia. Sem dinheiro para isso, os negros vão morar nas periferias, favelas e palafitas dos grandes centros urbanos, longe do convívio social dos demais membros da sociedade.
A população negra tem mais dificuldade de acesso à educação? Por quê?
Sim, pois negros e negras são os que mais abandonam os estudos para poder trabalhar ou para cuidar dos filhos. Estima-se que há mais de 3,8 milhões de jovens entre 4 e 17 anos que não frequentam a sala de aula. Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), 1 a cada 4 alunos que inicia o ensino fundamental no Brasil abandona a escola antes de completar a última série. Portanto, o espaço escolar é dos ambientes mais refratários ao negro. E, mesmo com as cotas raciais, apenas 35,8% dos estudantes negros ou pardos entre 18 e 24 anos estão no ensino superior. A maior parte, cerca de 45,2%, nessa mesma faixa etária ainda está no ensino médio.
Por que o racismo e a desigualdade persistem na sociedade?
São problemas desde a abolição da escravatura. Os negros deixaram de ser escravos, mas não tiveram políticas de inclusão social para dar-lhes empregos, moradia, comida e assistência social. Desde então, começou a desigualdade que conhecemos hoje em dia. Já o racismo mantém a mesma lógica da época da escravidão, só que com uma nova linguagem e novas formas, mas sempre mantendo o negro e a negra no patamar mais baixo da sociedade.
Como é possível mudar esse cenário?
Ficou bem complexo com o quadro político atual, pois o novo governo não se interessa por esse segmento da população e ainda quer diminuir políticas públicas identitárias. Nós só vamos mudar quando toda a sociedade, que inclui empresas, governos e cidadãos, fizer um pacto pelo fim do racismo no Brasil e não uma simples campanha de solidariedade. Isso implica em aumentar as ações do Estado nas políticas para negros, investir mais em educação, cultura, saúde, assistência social e outros programas de transferência de renda destinados aos mais pobres, com renda inferior a dois salários mínimos.
Por onde começar?
Quantos governadores, senadores, juízes, apresentadores de telejornal e programas infantis negros o Brasil tem? O país precisa acelerar as políticas sociais objetivando a formação dos jovens negros para o mercado de trabalho, para os cargos de chefia nas empresas de grande porte, emissoras de televisão, entre outros espaços. Acredito que faltam políticas estruturais, com foco em ações regionais. Por exemplo, no Nordeste exige-se um tipo de formação e mão de obra respeitando as especificidades daquela região. Também faltam políticas sociais de inclusão dos jovens, por meio de ações culturais e de incentivo ao primeiro emprego. Muitos estão saindo das universidades sem perspectivas de trabalho, com renda mínima para criar famílias ou sair da casa dos pais.