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Uma a cada cinco pessoas usa o cartão de crédito como renda extra

Não é novidade que o cartão de crédito pode virar uma dor de cabeça se usado de maneira incorreta. Prova disso é que uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Diretores Lojistas (CNDL) apontou que um a cada cinco usuários (20%) utilizam ele como extensão da própria renda, ou seja, recorrem ao crédito para comprar quando o salário acaba e, assim, adiar o pagamento.

Para o educador financeiro do SPC Brasil José Vignoli, esse é o retrato de como as pessoas têm vivido. “Isso mostra que o volume de despesas ultrapassa a receita oriunda do trabalho, ou seja, elas vivem acima de sua capacidade financeira. E aí, buscam complementar a renda com o crédito, só que custa caro, porque tem juros”.

Ele acrescenta que as pessoas têm dificuldades em rever seus gastos. “O problema não é usar o cartão, mas a falta de planejamento, que é muito comum entre os brasileiros. Isso gera um descontrole. Um exemplo é que muitas têm o hábito de acumular pequenas prestações e aí, no mês seguinte, a fatura está mais alta do que se esperava”.

Foi o que aconteceu com a auxiliar de cobrança Jéssica de Sá. Ela recorda, que a princípio, começou a comprar tudo pelo cartão de crédito a fim de aumentar o limite. “Eu fui comprando com ele e pagando a fatura antecipada para aumentar o limite do meu crédito. Deu certo. Comprei o celular e parcelei. Contudo, continuei usando ele como forma de pagamento e perdi o controle”.

Jéssica se sentia atraída pelo “prazo” que o cartão dá. “A minha fatura fechava no dia 15. Então a partir daí eu poderia comprar para só pagar no mês que vem. Mas eu não sou muito controlada e acabava gastando o dinheiro que ficava na conta como se ele estivesse sobrando. Aí teve um mês que a fatura veio R$ 689 e eu só tinha R$ 450. Paguei o mínimo. E a coisa começou a acumular”.

A auxiliar contraiu uma dívida de R$ 2.500. “Eu sempre estourava o limite. Liberava um valor no crédito e eu já gastava. E aí perdi completamente o controle. Tive muita dificuldade em colocar no papel e organizar os meus gastos, porque o valor associado aos meus gastos fixos como água, luz e internet eram altos. Negociei com a credora e consegui quitar a dívida. Por bem, achei melhor cancelar o cartão”.

Vignoli destaca que a bola de neve vivida por Jéssica é comum e que só o controle dos gastos evita o acúmulo de dívidas. “Usar o cartão não é o problema. Eu, inclusive, defendo que, quando usado da maneira correta, ele pode ser um grande aliado desse planejamento. A partir do momento que você gasta tudo no cartão, passa a ter em uma única fatura os gastos gerais do mês”.

Ele adiciona que, hoje, bancos e credoras facilitam esse plano. “Eles disponibilizam aplicativos ou nos sites detalhes da fatura mensal, mostrando quanto você gastou e em que lugar. O controle está nas mãos do usuário. Mas é preciso disciplina para que não se tenha surpresa com o valor da fatura”.


Dicas de controle:

  • Checar com regularidade a quantas anda a fatura.
  • Evitar um grande número de parcelas.
  • Financiar o que for realmente necessário para não cair em inadimplência.

Dados gerais

O estudo feito pela SPC em parceria com a CNDL apontou outros hábitos dos usuários do cartão. 44% deles utilizam o crédito apenas em caso de necessidades pontuais ou imprevistos. Já 38% usam para parcelar as compras e 34% para facilitar o pagamento aquisições feitas pela internet.

O levantamento aponta ainda que 41% dos consumidores já deixaram de comprar em locais que não aceitam cartões, sendo que 41% admitiram não ir a bares, restaurantes e lanchonetes, 35% não compraram com ambulantes e 19% desistiram de abastecer em postos de combustível. Outros 27% acabaram pagando suas compras de outra forma.

A pesquisa também constatou que 54% dos usuários usam o crédito para comprar roupas, calçados e acessórios. Em seguida, vêm os eletrônicos, 44%. Compras de supermercado e alimentos para a casa, 43% e itens de farmácia, 40%.