A posse do presidente Jair Bolsonaro (PSL) mal completou 1 mês e diversas multinacionais, entre elas as quatro principais fabricantes de veículos instaladas no Brasil, assim como empresas de outros segmentos – como Walmart, EDN, Arcos Dorados, Shell, ExxonMobil e Total -,já anunciavam investimentos no montante de R$ 85 bilhões, embaladas pelas perspectivas trazidas pelo novo governo federal.
Agora no terceiro mês do mandato do presidente, pouco mais se fala a respeito. E é natural que isso aconteça diante de um cenário ainda indefinido, no qual as grandes reformas da economia, especialmente a da Previdência Social – que puxará consigo as demais, como a trabalhista e a fiscal – ainda se encontram no pedregoso terreno das intenções.
E é bem verdade que o comportamento dúbio e um tanto inconsequente do presidente da República não ajuda muito. Muitas irrelevâncias já foram ditas e escritas, reiteradas várias vezes, usando como ferramentas as redes sociais – que, aliás, foram o principal cabo eleitoral da campanha de Bolsonaro. Até aí tudo bem, mas, convenhamos que essas mídias não são e nem podem ser instrumentos de governo. Ainda mais que nelas são postadas, quase diariamente, opiniões pessoais do presidente, de alguns de seus auxiliares e de seus filhos.
O fato é que o momento exige uma presidência absolutamente engajada naquele que é, hoje, o mais importante e emergente entre todos os projetos do Executivo: a Reforma da Previdência, pedra angular que determinará o sucesso ou insucesso do Governo Federal (assim como dos estaduais, já que quase todos estão praticamente quebrados). Bolsonaro pouco tem falado sobre ela: foi uma ou outra frase sobre sua importância, sobre a falência do sistema previdenciário caso não seja aprovada. Coisas assim. Na verdade, a reforma previdenciária vem sendo conduzida quase exclusivamente por aquele que a formulou, o ministro da Economia, Paulo Guedes, por um pequeno grupo de auxiliares diretos e por um ainda reduzido grupo de parlamentares.
Guedes vem fazendo a coisa certa. Sabe que sua proposta enfrentará uma tramitação longa e que, num primeiro embate, encontrará uma Câmara Federal onde as bancadas corporativistas têm peso considerável e muitas delas, como a dos servidores públicos, já se manifestaram contrárias às mudanças. Sabe que sua tramitação será longa e certamente tumultuada por grupos de pressão e que precisará dedicar muito tempo, argumentação e negociação para ter sucesso, ainda que parcial. Fala-se, inclusive, que vários itens da proposta de reforma foram inseridos na PEC – como diversos temas relativos à área trabalhista – exatamente para serem recusados.
O ministro da Economia faz lembrar, de certa forma, aquilo que foi Fernando Henrique Cardoso para Itamar Franco, quando este assumiu a Presidência da República após o impedimento de Fernando Collor. Mas com uma diferença que é crucial: enquanto as posturas do presidente Jair Bolsonaro transmitem a impressão (que, ressalve-se, podem ser não mais que isso, uma mera impressão) de inércia, as de Itamar Franco foram ativas. Foi ele quem deu carta branca ao novo ministro da Fazenda para montar sua equipe e criar um plano capaz de efetivamente estancar o longo processo inflacionário que, desde José Sarney e do confisco da poupança por Zélia Cardoso de Mello, na era Collor, vinha corroendo a economia. O Plano Real deu certo. Vamos torcer para que o “Plano Guedes” também dê. Se não…
*Engenheiro, vice-presidente da Federaminas, Presidente do Conselho do Instituto Sustentar e Presidente da Federação de Conventions & Visitors Bureau de Minas Gerais