Você se lembra do Vicente Mota, que escreveu o hino do América-MG, cuja história deu início a esta série? Então, ele também é o responsável pelas letras do hino do Atlético Mineiro e dos clubes sociais Labareda e a Vila Olímpica. Mas, a emoção de escrever a música que embala a torcida do Galo foi um pouco diferente. É que Vicente era um apaixonado pelo time alvinegro.
É o que conta a sua filha, Vânia Mota. “Meu pai era conselheiro do Atlético e tinha grande amor pelo clube. E, apesar de ser o compositor do hino, ficava no meio da torcida, mas no anonimato. Ele amava ir ao jogo e era contagiante assistir a uma partida perto dele. Só quem é atleticano entende do que eu estou falando, é um sentimento incondicional. ‘Uma vez até morrer’ mesmo”.
Vânia recorda que o hino do Atlético foi escrito entre 1969 e 1970, sob encomenda do diretor do clube na época, o Sr. Alberto Perini. “Ele pediu ao meu pai que mencionasse na letra as expressões: Galo Forte Vingador, Campeões do Gelo e Campeões dos Campeões”.
A letra rendeu ao autor o reconhecimento do clube. “Meu pai recebeu uma flâmula personalizada do time, um galo de prata e, na festa do centenário, uma medalha in memoriam. Me lembro de um aniversário do Atlético, em que foi celebrada uma missa na Igreja Boa Viagem, e onde meu pai tocou o hino no violão, acompanhado de um belo coral”.
O mito e o hino
Vicente Mota era próximo de um dos maiores ídolos da torcida do Atlético, o ex-jogador Dario José dos Santos, mais conhecido como Dadá Maravilha. Em uma conversa animada, Dadá nos contou que sempre brincava muito com Vicente. “A gente conversava bastante e eu gostava muito dessa nossa relação. Ele falava com o coração e traduzia no torcedor todo esse amor pelo time”.
Para o ex-jogador, o hino mexe com o fanatismo atleticano. “O amor do torcedor do Galo é cantado, em verso e prosa, de Norte a Sul do país. É um sentimento enorme e olha que eu joguei em grandes times do Brasil. Todas as torcidas são maravilhosas, mas só o atleticano é visto como maluco, porque até na pior derrota, ele está com o time”.
Dadá relembra, com carinho, o tempo em que defendeu a camisa do Galo. “Eu tive a honra de vestir o manto sagrado atleticano e ser um dos jogadores mais importantes da história do clube. Foi obra de Deus e, para mim, o Atlético é como uma família, eu me sinto muito bem quando visto a camisa alvinegra porque, modéstia à parte, eu a honrei”.
O hino fez parte de grandes momentos da vida de Dadá, mas, para ele, isso é algo que acontece com todo torcedor. “O hino do Galo é de todo mundo. Nem o próprio Vicente Mota podia falar que a composição era só dele, porque ele encarnou a letra em uma nação, em um povo apaixonado e fiel ao Clube Atlético Mineiro”.
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Hino
Nós somos do Clube Atlético Mineiro
Jogamos com muita raça e amor
Vibramos com alegria nas vitórias
Clube Atlético Mineiro
Galo Forte Vingador
Vencer, vencer, vencer
Este é o nosso ideal
Honramos o nome de Minas
No cenário esportivo mundial
Lutar, lutar, lutar
Pelos gramados do mundo pra vencer
Clube Atlético Mineiro
Uma vez até morrer
Nós somos campeões do gelo
O nosso time é imortal
Nós somos campeões dos Campeões
Somos o orgulho do esporte nacional
Lutar, lutar, lutar…
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Contagiante
De fato, todo alvinegro é apaixonado. O jornalista, escritor e atleticano declarado, Roberto Drummond disse em uma de suas crônicas que: “O primeiro e único mandamento do atleticano é ser fiel e amar o Galo sobre todas as coisas”. Para muitos torcedores, o hino sugere exatamente isso: a paixão desenfreada e imensurável que sentem pelo time.
É o caso do jornalista e advogado Eduardo Ávila, que se considera um “doente pelo Galo” assumido. Para ele, a torcida do clube tem muito a ver com o sucesso do hino. “Somos 8 milhões de atleticanos e, apesar de não sermos a maior torcida do Brasil, somos, sem sombra de dúvidas, a mais apaixonada. Um exemplo disso é que se, em um lugar, um copo cair e quebrar, sempre vai ter um para gritar ‘Galooooo’. Isso acontece porque nenhum atleticano tem vergonha de mostrar o que sente”.
O jornalista acrescenta que o hino é conhecido nos quatro cantos do mundo. “É o hino que tem mais versões: rock, sertanejo, pagode. Além disso, em todos os lugares em que eu fui ver o Galo jogar alguém conhecia a letra. Até mesmo no Marrocos me deparei com vários marroquinos gritando Galo e cantando parte da canção. O hino do Galo é o hino nacional do atleticano. O Atlético é a nossa seleção. E nós não temos receio em dizer isso, porque atleticano de verdade torce por amor e não porque o time está vencendo. Nós temos orgulho, enquanto outros têm vaidade”, alfineta.
Dizem que a torcida do Cruzeiro é cheia de vaidade. Será que isso procede, ou eles também sentem orgulho do hino de seu time? É o que vamos descobrir na semana que vem…