O cartão de crédito continua sendo o “vilão” financeiro dos brasileiros. Isso porque de acordo com pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), entre novembro e dezembro de 2018, o número de pessoas que não pagaram a fatura total aumentou de 20% para 25% fazendo com que elas entrassem no crédito rotativo. Já os que quitaram o valor integral somam 75% dos entrevistados.
A pesquisa mostrou também que o valor médio dos gastos realizados nessa modalidade foi de R$ 752,85 em dezembro passado e ele ainda é a forma de pagamento mais utilizada, 38% dos consumidores, a frente do segundo colocado, o crediário (15%). Os empréstimos foram citados por 8% e o cheque especial também por 8%. Há ainda 6% que buscaram financiamentos. No total, 48% dos brasileiros recorrem a alguma modalidade de crédito em dezembro.
Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, afirma que o número de pessoas que estão devendo o cartão de crédito ainda é alto, principalmente, porque esses dados demonstram que os brasileiros não conseguem se organizar para as contas comuns do mês. “O risco é grande quando se faz isso, pois estamos falando de crédito que tem juros de 285,89% ao ano. Às vezes, usamos o cartão para comprar, por exemplo, uma blusa que está na promoção, entretanto, esse barato pode sair caro quando não se paga a fatura em dia”.
As compras em supermercados foram o tipo de aquisição mais realizada (56%), seguida por compras de roupas, calçados e acessórios (48%), remédios (40%), idas a bares e restaurantes (29%) e pagamento de combustíveis (28%).
Para sair dessa bola de neve, Marcela recomenda deixar o cartão em casa para evitar cair “em tentação”. “É necessário, sobretudo, ajustar o padrão de vida de acordo com o que recebe e também conseguir guardar dinheiro para uma futura emergência. Além disso, é importante destacar também que não vale a pena usar o cheque especial para pagar o cartão de crédito, pois o primeiro tem juros de 312,6% ao ano”.
Considerando outras modalidades de crédito, a compra de roupas, calçados e acessórios foram os principais tipos de aquisições feitas no crediário (53%), percentual acima do observado em novembro (38%). No caso dos financiamentos, os automóveis (24%) ficaram em primeiro lugar.
Falta de crédito
A crise financeira pela qual o Brasil passa nos últimos anos ainda reflete na vida das pessoas: elas estão sofrendo com a falta de crédito. De acordo com o levantamento, seis em cada dez consumidores sentem dificuldades para ter acesso a financiamentos (61%) e empréstimos (58%). Ademais, 22% dos brasileiros tiveram crédito negado em dezembro ao tentarem parcelar uma compra, o que representa um aumento de 6 pontos percentuais na comparação com novembro.
As principais razões para a recusa foram inadimplência (7%), renda insuficiente (6%) e limite de crédito excedido (3%). Além disso, 77% têm vivenciado uma situação de aperto com as finanças, sendo que 29% estão no “vermelho” e 47% ficam no “zero a zero”, ou seja, honram seus compromissos financeiros, mas terminam o mês sem sobras de dinheiro. Apenas 15% estão em condições confortáveis. Não por acaso que mais da metade (54%) pretendiam cortar gastos ao longo do mês de janeiro.
A economista reitera que a falta de crédito está concentrada nas modalidades que possuem taxa de juros menores, como o financiamento e o crédito pessoal, mas aquelas que há os maiores índices (cartão de crédito e cheque especial) continuam de fácil acesso para os consumidores. “Os bancos já estão acostumados com a inadimplência no crédito fácil, mas nas outras não”, finaliza.