Inaugurado em 1978, o majestoso prédio do Othon Palace Hotel recebeu seus derradeiros hóspedes na última semana, mas ele não é o único. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Minas Gerais (ABIH-MG), 24 empreendimentos hoteleiros encerraram suas atividades na cidade nos últimos 2 anos, deixando 1.920 pessoas sem emprego, uma média de 80 funcionários por hotel, só no Othon foram 170 pessoas demitidas. Esse número é subnotificado já que, segundo informações do Observatório do Turismo de Minas Gerais, apenas 51% dos hotéis são associados à ABIH-MG.
De acordo com o vice-presidente da ABIH-MG, Rodrigo Mangerotti, a demanda hoteleira na capital mineira vem aos poucos retomando o patamar de antes da Copa do Mundo, principal fator atribuído à superofertas de leitos na cidade. “A Copa foi importante para o destino devido às melhorias acontecidas, bem como a divulgação para mercados consumidores. O problema para o segmento foi que, como em todo mercado, quando se percebe uma oferta superior à demanda, faz com que tenhamos uma crise de preço”, avalia.
Mesmo com a instabilidade, o setor é de peso para a economia do Estado. Segundo o Observatório do Turismo, o fluxo turístico em Minas, em 2017, foi de mais 26 milhões de pessoas, sendo cerca de 6 milhões em Belo Horizonte e 20 milhões no interior. Gerando uma receita turística de R$ 16 bilhões. Os números já foram melhores. A taxa de ocupação dos hotéis no ano passado foi de 45%. Uma constante queda quando comparado com anos anteriores. No período de 2008, 2009, 2010 e 2011, por exemplo, as taxas de ocupações foram de 64,5%, 61,7%, 64,6% e 62%, respectivamente. Hoje, Belo Horizonte e a região metropolitana tem 148 hotéis, segundo a ABIH-MG.
A rede carioca Othon encerrou o funcionamento em BH sem detalhar os motivos. Mas a empresa de capital aberto anunciou um prejuízo líquido de R$ 18,53 milhões no 2º trimestre de 2018, valor 39,97% superior ao dano líquido de R$ 13,24 milhões apurado no mesmo período do ano anterior. Além da filial mineira, também foi fechado o hotel baiano da rede.
Na memória
Antigamente símbolo de luxo e confraternização no coração da cidade, o Othon deixa órfãos. Entre eles, o repórter fotográfico e empresário Valdez Maranhão, 62, que realizou 12 edições da sua famosa “Feijoada do Maranhão”, no Varandão do 25ª andar do hotel, realizada desde 1991. “Foi uma perda muito grande para BH. Além das feijoadas, fiz minha festa de 50 anos e dois carnavais lá. Foi uma tristeza danada na despedida. Os funcionários também estavam bem tristes”, detalha.
José Carlos Rodrigues, 64, estava na equipe que preparava o hotel para a inauguração, trabalhou na rede por 16 anos como assistente de alimentos e bebidas, e esteve presente no seu último dia. “O Othon era um ícone nacional, trabalhei em outros lugares, mas nenhum me marcou tanto. Foi uma notícia muito triste e não à toa, o hotel estava lotado na despedida”, lembra.
Para Mangerotti, vai ser difícil preencher a lacuna deixada pelo hotel. “Uma marca forte como Othon e um local que fez parte de decisões políticas, culturais e econômicas durante tantos anos deixará saudades”. Sobre o futuro do prédio, com 273 quartos distribuídos em 29 andares, o vice-presidente da ABIH-MG não tem palpites: “Por enquanto, só boatos e fake news”.