A cena é comum em qualquer canto do Brasil: na sexta-feira, as pessoas vão para o barzinho beber uma cerveja para desestressar de uma semana agitada. O consumo de álcool não é apenas nesse dia, a “loira” está com boa parte dos brasileiros durante todo o final de semana.
E os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) corroboram que as pessoas estão bebendo mais: em 2006, cada brasileiro, a partir de 15 anos, consumia o equivalente a 6,2 litros de álcool puro por ano e, em 2016, a taxa chegou a 8,9, um aumento de 43,5% em apenas 10 anos. Com isso, o país figura na 49ª posição do ranking entre os 193 avaliados.
A OMS não vê o consumo do álcool como um problema, mas considera que o uso excessivo e a falta de controle podem se transformar em ameaças. Afinal, 3,3 milhões de pessoas morrem todos os anos em consequências da bebida – 5,9% de todas as mortes no mundo. No grupo entre 20 e 39 anos, 25% das mortes têm uma relação direta com o álcool. Além disso, a organização constatou que a bebida pode causar mais de 200 doenças, incluindo algumas mentais.
A nutróloga e endocrinologista Paula Whyte comenta que as doenças mais comuns são o aumento da incidência de câncer, demência, piora da hipertensão, obesidade, pancreatite, hepatite entre outras. “O ideal é que, por dia, as mulheres não passem de uma dose e os homens duas. No caso da cerveja, seria uma latinha para elas e duas para eles. Se a pessoa tem o hábito de diariamente tomar cerveja é difícil parar nessa dosagem, então, o que orientamos é não consumir todos os dias e beber de maneira esporádica e com controle. Afinal, não adianta nada ficar um mês sem ingerir álcool e no sábado beber o dia todo”.
O pedreiro José Amoras é uma dessas pessoas que sofreu as consequências do hábito. Ele conta que bebia pelo menos uma cerveja por dia. “O bar é no caminho entre o ponto de ônibus e minha casa, então passava lá para conversar com os amigos e, nesse bate-papo, sempre tinha uma cervejinha no meio”.
Há 6 meses ele recebeu o diagnóstico de pancreatite. “Apesar dos médicos falarem que isso tem a ver com a minha cerveja, não acredito. Diminui o consumo, mas pelo menos duas vezes na semana ainda passo lá”.
Perguntado se ele não tem medo de que isso, mesmo que esporádico, prejudique o tratamento da pancreatite, Amoras afirma que não. “Todos têm uma missão nessa vida, a minha já está concluída, meus filhos estão criados e com um bom emprego. Agora eu quero é ser feliz e continuar com a minha cerveja”.
Como beber
A médica diz que o ideal é intercalar o consumo de bebidas alcoólicas com o de água e não consumi-las sem comer. “A barriga vazia faz com que o álcool tenha um efeito mais rápido e o estado de embriaguez vem com mais força. Ademais, recomendo que esse consumo seja sempre acompanhado de um líquido mais saudável e que hidrate. Às vezes, a pessoa acha que já está tomando líquido ao consumir a cerveja, mas, na verdade, como bebida faz urinar, ela fica até um pouco desidratada”.
A especialista recomenda que para cada copo de cerveja, tome-se um de água. “Isso é bom, porque dá uma sensação de saciedade mais rápido, então necessariamente bebe-se menos”.
Esporádico e dependência
Para finalizar, Paula elucida a diferença do consumo de bebidas alcoólicas que pode ser considerado esporádico daquele que já é dependência. “Aquela pessoa que tem uma ingestão diária pode ser considerada dependente, não importando a quantidade consumida. Além disso, tem aquelas que não conseguem ficar nenhum dia sem beber e as pessoas que convivem relatam que isso modifica até o humor, como irritação e falta de paciência. E uma pergunta muito importante também é ‘você consegue ficar sem beber quando quer?’ Se a resposta for negativa, é um sinal eminente de dependência”.