Até o dia 11 de junho, o público poderá visitar a exposição “O corpo que pariu, o corpo que partiu”, de Daniela Schneider, na Piccola Galleria, espaço localizado dentro da Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte. A mostra também está disponível em um tour virtual no site oficial do espaço cultural.
Questionamentos como transformar e elaborar o luto? e como lidar com as ambiguidades de afeto da maternidade e todas as mudanças que vêm com ela? são debatidos. ‘O corpo que pariu, o corpo que partiu’, foi idealizada a partir da experiência da maternidade do primeiro filho de Daniela e de sua partida, cinco dias após o nascimento. São cinco esculturas em crochê, em tons de rosa e vermelho, que fazem referência a corpos, além de 51 fotografias de uma performance também estarão em exibição.
A exposição nasceu, como conceito, em 2013, pouco depois da morte de Theo, primeiro filho da artista. Tudo começou com um pequeno diário, até que a escrita começou a ser transformada em um projeto visual. Cerca de 11 meses após a passagem de Theo, essas ideias começam a ganhar a forma de esculturas e performances. Entre 2018 e 2022, Daniela, de fato, criou as esculturas feitas em tecido, com técnica de crochê. “Esse é um trabalho que fala sobre vida e morte. É autobiográfico, mas aborda os ciclos da vida de muitas pessoas”, analisa.
Segundo a artista, as obras são provocativas. As formas transitam entre o cheio e o vazio, na dualidade de carregar vidas ou não. Lembram órgãos, ou, até mesmo, o corpo inteiro, em especial o feminino. “É como me relaciono com o meu próprio corpo e, a partir do momento em que convido o espectador a interagir com a obra, tocando ou manipulando, tento despertar reflexões sobre os corpos físico e psíquico”, revela.
Para provocar questões individuais no público, as esculturas poderão ser tocadas, incitando um misto de sentimentos que partem de um processo íntimo da artista, mas, ao mesmo tempo, atinge tantas mulheres. Daniela explica que as obras também demonstram os momentos vividos com o Theo, com os medos e as dificuldades. Já as fotografias externalizam sentimentos, em movimentos que fazem alusão ao amor e à dor. “É sobre gerar e não ter controle de nada, mas poder decidir como seguir em frente diante de uma perda terrível”.
Para a curadora da exposição, Bianca Dias, a mostra trata da questão da maternidade que vai do eu ao outro, do íntimo ao político, configurando-se como uma travessia de estranha densidade poética, produzindo a vida como um texto, uma escritura, uma bordadura. “Não é um desenho da fronteira entre a vida e a morte, mas um litoral e, nesses limites tênues, a artista assimila a coragem de uma geografia rebelde, que se amplifica nas esculturas em tons de rosa e vermelho, como vísceras abertas ao mundo”.
Com a representação do ilimitado, Daniela recria memórias, transforma a dor e a perda em trabalhos delicados e potentes. Ela ainda destaca que a mostra é uma celebração à memória do filho e uma homenagem muito significativa. “Theo teria completado 10 anos em fevereiro deste ano. Ter sido selecionada para expor na Piccola Galleria foi emocionante, e um fechamento bonito para esse ciclo, que segue marcando minha trajetória e toda a minha vida”, finaliza.