Quando determinou a retirada dos materiais de infraestrutura das imediações do Comando da 4ª Região Militar do Exército na Avenida Raja Gabaglia, zona Sul de Belo Horizonte, o prefeito da capital mineira, Fuad Noman (PSD), foi classificado de traidor da pátria por manifestantes bolsonaristas que estavam aglomerados na portaria da instituição.
O ato isolado do chefe do Executivo de BH era apenas a ponta do iceberg. Ele foi o primeiro a mandar a recolher os objetos de apoio usados durante o protesto, como banheiros químicos, cadeiras, barracas para acampamento, entre outros itens.
No entanto, a ordem de Fuad coincidiu com o início de uma espiral malfadada de ataques dos manifestantes que já estavam determinados a seguir para Brasília, juntamente com parceiros de outros estados, especialmente do interior de São Paulo, conforme verificado após invasão aos prédios dos Três Poderes.
Em verdade, ao longo de dois meses de agrupamento de manifestantes, tanto em Belo Horizonte e, comprovadamente, depois do ato em Brasília, percebeu-se a falta de liderança dos movimentos. Era algo
feito sem a coordenação de um nome que pudesse representá-los. Em momento algum se constatou que os aludidos apoiadores nutriam a devida ajuda das Forças Armadas, mesmo que de maneira discreta. Pelo visto, isso foi apenas fruto da imaginação dos grupos.
As apurações da imprensa marcham na direção de um raciocínio basilar e lógico. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está passando uma temporada em Orlando, nos Estados Unidos, almejava outro resultado com os ataques à capital federal. A pretensão visava que ele surgisse como uma opção de retorno ao poder do país. Porém, se esta
era a sua aspiração, esbarrou na desorganização do ato.
Ao longo daquele dia, vimos pessoas praticando vandalismo e completamente desnorteadas. Uns se dirigiam ao Senado, outros ao Palácio do Planalto, enquanto dilaceravam também a sede do Supremo Tribunal Federal (STF). Hora nenhuma apareceu o nome de um político de proa, nem mesmo de parlamentares ligados diretamente ao ex-presidente. No final da tarde, o próprio presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, mesma sigla de Bolsonaro, se pronunciou nas redes sociais e condenou os termos da manifestação. Objetivamente, se o ato tinha a
finalidade de tomar o poder, mediante um golpe de Estado, ele foi abortado e o malfadado evento ensejou a prisão de centenas de participantes.
Só para rememorar, em 1964, quando houve o golpe de Estado, foram os próprios militares que assumiram a Presidência da República. Assim, caso o ato do dia 8 de janeiro resultasse em um projeto para
tomar o controle da administração federal, não havia garantias de que um civil viesse a ser escolhido para ocupar o posto.
De resto, em Brasília, o senador eleito e ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos), almeja dar voz aos bolsonaristas, porém, essa probabilidade pode esbarrar em outra linha de pensamento e de projeto
político. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), está na linha de frente e reúne todos os predicados para ser o novo líderda direita no Brasil.