A campanha Fevereiro Roxo busca ampliar as informações acerca das doenças autoimunes. Consideradas invisíveis, essas patologias são de difícil diagnóstico, pois, em muitos casos, são confundidas com outras enfermidades. Estima-se que de 3% a 5% da população mundial seja afetada por elas. Dentre as principais estão a fibromialgia, que acomete, principalmente, mulheres de 30 e 50 anos e já atinge 2,5% da população mundial. E também o lúpus, que impacta cerca de 5 milhões de pessoas no mundo. Os dados foram divulgados pela Sociedade Mineira de Reumatologia (SMR).
A presidente da SMR, Mariana Peixoto, explica que, apesar de serem autoimunes, o lúpus e a fibromialgia são completamente diferentes. “No lúpus acontece uma alteração do sistema imunológico e, a partir disso, o próprio organismo começa a criar anticorpos que atacam ele mesmo. Já na fibromialgia ocorre uma desregulação do sistema nervoso central, aumentando a percepção dolorosa. Ou seja, não há nenhuma inflamação ou alteração autoimune no organismo, porém, o paciente sente dores difusas em todo corpo”.
Ela acrescenta que o lúpus pode acometer diversos órgãos e tecidos, como a pele, as articulações, o sistema nervoso central, intestino e coração, podendo levar a danos leves e severos. E que a fibromialgia não gera tanto dano físico ao paciente, mas, impacta na qualidade do sono, além de existir a associação com a ansiedade ou depressão.
De acordo com a especialista, o diagnóstico também é um desafio para os pacientes. “A primeira dificuldade está no reconhecimento dessas patologias pelos próprios médicos que, muitas vezes, não lidam diretamente com elas. Especificamente em relação à fibromialgia, outro ponto é o preconceito que os portadores podem sofrer, já que não aparecem alterações em exames laboratoriais. Muitas vezes, as pessoas escutam que essa patologia é algo apenas da cabeça deles, por isso é importante conscientizar que a doença é real e necessita de tratamento”.
No que diz respeito ao lúpus, Mariana explica que a dificuldade é ainda maior, porque é necessária uma conjunção de sinais e sintomas, além de exames laboratoriais para fechar o diagnóstico. “O exame isolado pode assustar o paciente, no entanto, não é suficiente para fechar uma análise de lúpus. É preciso unir todas essas informações para ter um parecer correto”.
A advogada Wilma Aguiar recebeu o diagnóstico de lúpus há 26 anos. Os sinais que a levaram a procurar o médico foi o ganho de peso e intestino preso. “Ficava quase 15 dias sem ir ao banheiro. Foram solicitados vários exames de sangue que vieram com resultado alterado. Fui encaminhada ao endocrinologista e, primeiro, diagnosticada com tireoidite de Hashimoto. Contudo, após a realização de exames específicos veio o resultado final de lúpus”.
Ela conta que se desesperou, pois não existiam muitas informações sobre a doença. “Eu sabia que era autoimune, ou seja, não tinha cura e isso foi angustiante. Ao longo dos anos tive muitas sequelas como três tromboses e pleurite. Passei por diversos tratamentos: quimioterapia, corticoterapia, dentre outros. Até que em 2012, um nefrologista, juntamente com meu reumatologista, me indicou um novo caminho com um medicamento usado em pacientes submetidos a transplantes de órgãos. Precisei entrar com uma ação judicial para que o Estado me fornecesse o remédio, pois o valor é alto. Desde então, o lúpus se mantém inativo”.
Tratamento
As duas doenças não têm cura, mas existem tratamentos que garantem qualidade de vida aos pacientes. “Quem tem lúpus precisará fazer uso de medicamentos, algumas vezes imunossupressores e uma terapia multidisciplinar para o melhor controle da patologia”, informa Mariana.
Ainda segundo ela, o tratamento da fibromialgia também deve ser multidisciplinar focando em três importantes pilares. “O uso de medicamentos que podem ser associados, remédios para dor e antidepressivos para o controle da ansiedade. Porém, outros pilares também são importantes, por exemplo, a atividade física diária, bem como a Terapia Cognitivo-Comportamental. Tudo isso irá auxiliar que o paciente enxergue a vida de uma forma diferente, se cobre menos por seus problemas e tenha mais leveza”, conclui a presidente da SMR.