De repente, a designer gráfica Beatriz Vilar, 27, viu seu ambiente de trabalho invadir sua sala de jantar. “No início, eu não tinha nem uma cadeira confortável. E o pior é que por eu utilizar dois monitores, um notebook, teclado e mouse, a mesa de jantar ficava uma zona e eu passei a nem usar ela mais porque não fazia sentido tirá-los já que no outro dia ia precisar de novo”, lembra sobre o início do home office, devido à pandemia, em março de 2020.
Seis meses depois da mudança, em setembro de 2020, a vacina contra a COVID-19 e a normalização da rotina pareciam distantes. Foi então que a designer planejou uma reforma na casa para garantir um espaço de trabalho. E ela não estava sozinha. Levantamento realizado pela Casa do Construtor e pela AGP Pesquisas revelou que 68% dos entrevistados fizeram algum tipo de reforma nos últimos 12 meses.
“Minha rotina mudou completamente, mas me adaptei muito bem. Quanto mais o tempo passava, mais certo parecia que a agência que eu trabalho adotaria o modelo de home office e, agora, isso já está confirmado. O escritório está aberto, mas a maior parte é feita em casa e isso facilita muito em relação a otimização do tempo”, avalia Beatriz.
Segundo a pesquisa, 38% dos que fizeram mudanças no imóvel afirmam que o motivo foram os novos hábitos decorrentes da pandemia. “Os dados mostram claramente que, diferente de quase todos os outros setores, o mercado de construção civil não sofreu quase nada com a crise sanitária. As pessoas foram forçadas a ficar mais tempo em casa e, com isso, detalhes que passavam despercebidos começaram a incomodar mais, por exemplo, aquela mancha na parede, a lâmpada queimada”, diz Antonio Perina, diretor comercial da AGP Pesquisas e responsável pela condução do estudo.
O que as pesquisas indicam, a consultora imobiliária Arlene Gomes confere no dia a dia. “As pessoas se viram dentro de casa com toda a família precisando conviver em poucos ambientes. A venda e locação de imóveis aumentaram muito com isso. Quem teve condições procurou regiões da Grande BH com áreas de respiro, como Nova Lima e Lagoa Santa, para realizar o home office. Em Retiro das Pedras, praticamente, já não há mais locações. Outra parte da população começou a reformar o imóvel que vive, especialmente, para pontos de trabalho”, conta.
Mesmo com o fim das restrições de mobilidade na maioria dos estados, a análise mostra que 70% dos entrevistados ainda pretendem fazer novas reformas nos próximos 6 meses. “São tendências que vieram para ficar. O trabalho híbrido é um caminho sem volta e as pessoas vão estar mais dentro de suas casas. A crise sanitária mudou a forma de enxergar o imóvel e as construções”, diz.
De acordo com a consultora, a alta procura, inclusive, afetou os preços. “O Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) é composto pelos valores dos materiais da construção civil e tudo subiu, já que era muita demanda para pouco produto disponível no mercado. Marcenaria, cimento e mão de obra são alguns dos exemplos de aumento, tanto de procura como de preço”, afirma.
Para Perina, as novas mudanças de comportamento vão garantir bons números para a construção civil. “O setor foi bem penalizado na crise de 2015 e 2016 e, desde então, retomou o crescimento. Lançamentos, reformas, geração de empregos, venda de materiais, todos estão atingindo níveis históricos de resultados, e a tendência é que este ciclo dure mais alguns anos”, conclui.