O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) é usado pela imensa maioria do mercado imobiliário como referência para o reajuste dos contratos de aluguéis. Desde o início da pandemia, o indicador tem passado por alta – o acumulado dos últimos 12 meses já bateu 31,1% – o que tem impactado fortemente no aumento do valor de espaços locados. Especialmente, num momento em que a economia brasileira vive uma recessão sem precedentes devido à COVID-19. Para Arlene Gomes, consultora do setor imobiliário, o cenário crítico pede bom senso para uma negociação sensata entre inquilinos, locadores e imobiliárias.
Como você avalia a atual situação do mercado imobiliário?
São vários os impactos da pandemia nesse aspecto. Os cidadãos tiveram que remodelar as formas de trabalhar. O home office, tão temido, mostrou-se eficaz. Os gestores, imobiliárias e colaboradores se adaptaram. Já o mercado imobiliário como um todo, seja para quem vende, aluga ou investe, provou ser uma alternativa bem propícia. O fato das pessoas passarem mais tempo em casa faz com que elas pensem mais no próprio lar, portanto, a moradia está em alta. Hoje, é uma tendência que os locatários procurem espaços com áreas abertas, escritórios para o trabalho remoto e, para quem tem crianças, uma das prioridades é a área verde. Em termos de investimentos, em relação a outros segmentos, o imóvel foi o menos abalado. Do ponto de vista de quem atua com locação, o estresse tem sido grande devido à alta taxa de rescisão de contratos e pouco giro de salas comerciais, o que levou o trabalho a dobrar. O IGP-M, comumente usado para regulamentação de aluguel, é o maior visto desde 2007.
Quais são as causas para alta do IGP-M desde o ano passado?
Também está interligado a vários aspectos da pandemia. O IGP-M, divulgado todo mês pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-IBRE), serve como uma referência para os demais índices utilizados no mercado. É um indicador que afeta, por exemplo, no reajuste de tarifas públicas, como a conta de energia elétrica. Quanto maior o preço das matérias-primas e serviços analisados, maior é o número do IGP-M. Justamente por ter relação com mercadorias e serviços que fazem parte do cotidiano da população, ele impacta todas as pessoas. Ou seja, desde o início da crise sanitária, tudo relacionado à construção e à alimentação aumentou muito e essas altas impactam na composição do IGP-M.
O inquilino pode não aceitar um reajuste elevado?
Com certeza, inclusive, o momento é de muita negociação. A grande maioria dos contratos imobiliários são regidos pelo IGP-M, porém, ele é apenas um dos índices, existem outros como o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que também pode ser levado em consideração. O que tem prevalecido muito é o bom senso e a empatia, seja da imobiliária, do locador e do inquilino. A minha dica é que a pessoa argumente que o reajuste seja feito a partir de outro índice, como o IPCA. Também é possível tentar parcelar a correção. Para isso, outra orientação é que o inquilino esteja muito atento às cláusulas do contrato assinado.
Você acredita que as imobiliárias estão abertas à negociação?
Elas estão vivendo um momento de política da boa vizinhança para intermediar essa negociação. Mesmo que alguma seja inflexível quanto a isso e impor um aumento sem abertura para negociar, os inquilinos, hoje em dia, estão muito bem informados. Mas, acredito que a postura no geral é de bom relacionamento e a prioridade atual é manter o imóvel dentro da imobiliária, principalmente, devido ao alto nível de rescisões.
Lidar com imobiliárias sempre foi tarefa burocrática. Quais são as tendências para o futuro neste segmento?
As imobiliárias digitais surgiram para sacolejar o mercado de locação de imóveis. Iniciativas para desburocratizar o aluguel são tendências que vieram para ficar. Especialmente na questão de garantias locatícias ou pessoas que possam dar garantia ao inquilino e ao locador. Acredito que essas inovações no segmento têm amadurecido muito o mercado imobiliário, principalmente, nas questões de profissionalização e digitalização. Hoje, o foco é pensar no cliente e não no imóvel para que todas as partes saiam ganhando.