De março de 2020 até fevereiro de 2021, as atividades turísticas somam um prejuízo de R$ 290,6 bilhões. O setor chegou ao segundo mês do ano operando com apenas 42% da sua capacidade mensal de geração de receitas, segundo calcula a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A entidade também estima que o ramo só deve recuperar no início de 2023 o nível médio de geração de receitas mensais do pré-pandemia.
Entre junho de 2020 e janeiro de 2021, o ritmo de danos vinha descendo. Porém, o mês de fevereiro marcou uma interrupção nessa tendência, quando a perda mensal cresceu a R$ 15,96 bilhões. “Acho que a segunda onda da pandemia causou essa reversão”, disse o economista da CNC, Fabio Bentes. Mais da metade (51%) do prejuízo apurado até agora pelo setor ficou concentrado em São Paulo (R$ 104,9 bilhões) e Rio de Janeiro (R$ 45,5 bilhões).
O agregado especial de atividades turísticas cresceu 0,7% em janeiro ante dezembro, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Serviços, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O segmento de turismo avançou 122,8% entre maio de 2020 e janeiro de 2021, mas ainda precisa crescer 42,1% para retornar ao nível de fevereiro do ano passado no pré-pandemia.
Reação em cadeia
Bruno Fagundes é proprietário de uma empresa de transporte particular e conta que vem amargando prejuízos desde o ano passado. “Nosso ramo depende totalmente da atividade turística e, consequentemente, quando um vai mal o outro também acompanha. Nós tínhamos vários contratos fechados no começo de 2020, principalmente para o Carnaval e Semana Santa. Cerca de 80% foram cancelados e tivemos que devolver o dinheiro aos clientes. O restante preferiu remarcar para uma data futura, sendo que muitos estão em aberto e ainda não conseguiram utilizar o serviço por conta do agravamento da situação da COVID”, relata.
Ele diz que a empresa já está no mercado há mais de 10 anos e nunca viu uma crise tão severa. “Já passamos por situações complicadas, mas igual essa é a primeira vez. Precisamos demitir boa parte dos nossos funcionários. Antes tínhamos 35, agora somos apenas 22. Mesmo com o início da vacinação, não temos perspectivas de melhoras em curto prazo. Talvez para 2022 o cenário já esteja mais favorável ao setor de turismo”.
Para Jackson Castro, gerente de marketing de uma rede hoteleira, houve aumento na procura por hospedagem no início de 2020, muito por conta do Carnaval. “Mas durante os meses seguintes, os números são apenas decrescentes. Para se ter uma noção, no final do ano, a taxa de lotação costuma ficar em 90% e até 100%. Agora, trabalhamos com média de apenas 30%. Além dos cancelamentos e devoluções das quantias pagas, não temos tido muitas reservas nos últimos tempos”.
O gerente reforça que toda a equipe tem tomado os devidos cuidados para prevenção ao coronavírus. “Colocamos acrílico na recepção para evitar o contato com os hóspedes e disponibilizamos álcool em gel em todas as dependências. Não temos mais o buffet de café da manhã para não ter aglomeração. O movimento caiu bastante, mas assim que o setor de turismo se recuperar, a hotelaria também vai melhorar. Acredito que no final deste ano as coisas já comecem a se ajeitar”, conclui.