O Campeonato Brasileiro teve seu início no último final de semana, mas com inúmeros problemas em função da pandemia do novo coronavírus. Dezenas de atletas testaram positivo para a COVID-19 e partidas do Brasileirão foram adiadas.
Em meio aos casos confirmados, levantou-se o debate sobre a volta precoce do esporte, diante dos 101 mil mortos pela doença e da falta de controle sobre a disseminação do vírus. Segundo informações dos clubes, desde o retorno do futebol, em junho, ao menos 151 jogadores das equipes da Série A testaram positivo para a COVID-19.
Os adiamentos das partidas são o retrato da gravidade da situação sanitária do país. A equipe do São Paulo viajou até Goiânia e entrou em campo, no último domingo (9), mas não teve jogo. Horas antes da partida, dos 26 exames realizados em jogadores do Goiás, 10 testaram positivo para o novo coronavírus, sendo oito titulares. A suspensão da partida foi determinada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) faltando poucos minutos para o início do jogo.
É sabido que cerca de 250 pessoas são mobilizadas direta ou indiretamente para um jogo do campeonato nacional, sendo que grande parte dos envolvidos poderiam ser infectados, caso a partida fosse realizada. Se levarmos em conta as famílias desses profissionais, ainda mais pessoas teriam corrido o risco de contrair a doença.
Ainda no mesmo domingo, Imperatriz-MA e Treze-PB, um dos jogos da primeira rodada da Série C do Brasileirão, também foi adiado. A decisão foi anunciada após 12 dos 19 jogadores relacionados pelo time maranhense terem testado positivo para o coronavírus.
A decisão foi tomada apenas momentos antes do horário marcado para partida, que ocorreria em Campina Grande. É lamentável a postura da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ao não considerar a possibilidade de transmissão do vírus entre atletas. Em verdade, o que se percebe é que para a entidade, se for possível substituir contaminados, não importa o número. Até porque, a prioridade é o calendário. Outros casos de jogadores contaminados foram registrados na Série C, mas sem a suspensão da partida. O Ypiranga, do Rio Grande do Sul, foi à Santa Catarina, pela Série C, para enfrentar o Brusque. Cinco atletas estavam contaminados. Já o Vila Nova de Goiás, enfrentou o Manaus. Durante a viagem, o clube descobriu que também tinha um contaminado no grupo. Todos foram isolados e as partidas ocorreram sem os atletas infectados.
Após uma avalanche de críticas, a CBF anunciou neste dia (10), uma mudança no protocolo de testagem das competições nacionais. Entre as mudanças está o aumento do número de testes realizados pelos participantes da competição. Neste caso, todos os jogadores dos elencos dos clubes, inscritos na competição correspondente, serão testados a cada rodada, com 72 horas de antecedência a cada partida, independente de estarem ou não relacionados para o jogo.
Para tentar amenizar o clima ruim instalado nessa primeira rodada do Brasileirão, a CBF também abriu mão de exigir que todos os testes sejam relacionados pelo Hospital Albert Einstein. A instituição foi contratada pela confederação para monitorar com exclusividade o processo de exames, mas admitiu falhas na testagem.
Desta forma, os clubes vão poder optar entre seguir utilizando os serviços do Einstein ou contratar laboratórios locais, desde que eles sigam os padrões estabelecidos no protocolo da CBF. A entidade se compromete a reembolsar o valor dos testes aos clubes que optarem por outro laboratório.
Para os especialistas em infectologia, é provável até mesmo que surtos como o ocorrido pelo Goiás, que tem nove casos confirmados da doença, passem a ser mais comuns justamente a partir de agora, por causa das viagens.
A epidemia ainda está entre nós, e qualquer proximidade entre pessoas pode gerar transmissão. O maior perigo do Campeonato Brasileiro é fazer com que os jogadores se tornem vetores da doença. São atletas dotados de boa saúde, mas o problema é na verdade os familiares, alguém com comorbidade.
Ao meu sentir, o retorno do futebol, em tempos de pandemia, revela a irresponsabilidade das autoridades. Coloca, diretamente, em risco a saúde dos profissionais envolvidos. O futebol deveria servir de exemplo e não contribuir para o aumento significativo de contaminados por um vírus que já demonstrou ser extremamente perigoso e, em muitos casos, letal.
*Wanderley Paiva
Desembargador do TJMG e bacharel em Comunicação Social
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