Uma das formas de enfrentamento ao coronavírus é o isolamento social, medida recomendada pelos órgãos de saúde para conter o rápido avanço da doença. Em Minas Gerais, há quase 2 meses o comércio considerado não essencial precisou fechar as portas. No entanto, com uma queda brusca na renda de muitas famílias e empresários, a crise econômica em diversos setores era inevitável e muitos fizeram pressão para que o distanciamento fosse encerrado. Apesar das perdas, seria essa a decisão correta a se tomar?
É exatamente isso o que buscou responder um estudo feito por pesquisadores do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ao contrário do que a maioria pensa, afrouxar as medidas de isolamento pode fazer a economia mineira perder até quatro vezes mais.
“A flexibilização prematura do distanciamento social em Minas Gerais, em relação ao padrão que estava sendo adotado no estado, não é recomendada do ponto de vista econômico e social, considerando os maiores custos à atividade econômica e a ausência de efeitos positivos relevantes que superem os impactos da crise”, defendem os responsáveis pela pesquisa.
O levantamento, financiado inteiramente por recursos públicos da UFMG, analisou alguns cenários. A projeção “sem distanciamento” implicaria em uma queda de até -4% no Produto Interno Bruto (PIB) de Minas Gerais pelos próximos 4 anos, quando comparado a um quadro sem a pandemia. Em termos monetários, significaria uma perda econômica de cerca de R$ 69 bilhões.
A segunda hipótese de manter o “distanciamento estendido”, modelo atual adotado em Minas com o funcionamento apenas de serviços essenciais, resultaria numa redução de -1% no PIB, com prejuízo de R$ 19 bilhões. Os setores com maior impacto negativo seriam os de serviços e indústria. “A pandemia afasta pessoas do trabalho, por conta de doença ou falecimento. Substituí-las também gera despesa para as empresas com treinamento e contratação temporária. Além disso, uma hora ou outra, as que se afastam por motivo da doença vão voltar. No cenário em que a epidemia se alastra muito, estes custos são maiores”, afirmam.
A conclusão do estudo aponta que restringir a circulação de pessoas nas ruas poderia evitar perdas de R$ 50 bilhões nos próximos 4 anos. “O isolamento social mais amplo mitiga a perda econômica em médio prazo, além de achatar a curva de infecção e trazer benefícios de saúde. Poupar vidas e garantir a capacidade de atendimento do sistema de saúde para a maioria da população é um ganho econômico relevante. A salvação da economia depende fundamentalmente da manutenção do isolamento e da preservação do maior número possível de vidas”.
Os especialistas dizem que em nenhum lugar do mundo o relaxamento das medidas de isolamento reduziu os impactos da crise. “Perdas econômicas vão ocorrer, mas podem ser minimizadas. Cabe aos diferentes entes federativos (federal, estadual e municipal) a articulação de políticas governamentais para a manutenção e recuperação da renda e do emprego, de forma a amenizar os impactos na vida das pessoas, na economia e na saúde”.
Para finalizar, os pesquisadores esclarecem que não existe dilema entre saúde e economia durante o enfrentamento ao coronavírus. “Diferentemente do que tem sido propagado por certos setores da sociedade, o isolamento traz custos econômicos, mas abrir mão dele traz gastos ainda maiores tanto para a saúde como para o país. Podemos recuperar a economia, mas não as vidas perdidas”, ressaltam.