A cirurgia para o tratamento do câncer de próstata é chamada de prostatectomia radical e consiste na retirada completa da glândula do aparelho genital masculino e das vesículas seminais, e é indicada apenas para o câncer. Mas também é possível a retirada parcial da próstata, em casos de tumores benignos, como explica Marco Túlio Lasmar, urologista do Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte. “Existe a hiperplasia prostática benigna que pode ser tratada por prostatectomia simples, na qual se retira apenas o adenoma, uma espécie de miolo. E é indicada para próstatas muito grandes, acima de 100g”.
Existem três maneiras de se realizar a cirurgia: a tradicional, chamada de aberta, e as menos invasivas, chamadas de laparoscópica ou robótica, em que são feitos pequenos cortes no abdômen para a introdução de uma câmera de vídeo e instrumentais cirúrgicos com os quais se realiza o procedimento. A aberta e a laparoscópica são disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
De acordo com o urologista e professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Bruno Mello dos Santos, não há dados para afirmar a eficácia de um método sobre o outro. “A laparoscópica e a robótica são menos invasivas, com menos dor, menos sangramento, com um período de internação menor. A robótica é mais precisa, com continência precoce melhor, mas não existem estudos para afirmar superioridade nos demais quesitos”, explica.
Segundo Santos, as chances de cura do câncer após a cirurgia são altas. “A cirurgia cura cerca de 90% dos pacientes com baixo risco, 75% de risco intermediário e 50% de alto risco, de acordo com a classificação de D’Amico, que leva em conta o exame de toque retal, o PSA (Antígeno Prostático Específico) e agressividade (diferenciação) do tumor pela biópsia”, esclarece o professor. Ele acrescenta que cada caso é avaliado individualmente. “Pode-se optar pela cirurgia ou radioterapia. Não existe uma receita de bolo para decidir quem faz um ou outro. Tem que ser conversado, explicado e orientado com cada paciente e, no final, chegamos a uma conclusão compartilhada”.
Lasmar explica que as principais complicações relacionadas ao procedimento são a possibilidade de impotência sexual e de incontinência urinária. “Fatores como a idade, a função sexual prévia, o estágio da doença, a técnica cirúrgica empregada e a experiência do cirurgião interferem nos resultados finais pós-operatórios. Em geral, com a cirurgia, a libido não é prejudicada, apenas a função erétil”, afirma.
Nesse quesito, a prevenção é essencial, já que os estágios da patologia interferem no resultado final da cirurgia. “Casos mais avançados tendem a ser tecnicamente mais difíceis, enquanto que os mais iniciais podem ter uma intervenção mais preservadora, aumentando as possibilidades de manutenção da função sexual e reduzindo as chances de incontinência urinária”, esclarece Lasmar.
Apesar de ser algo mínimo, a cirurgia pode alterar o tamanho do órgão sexual masculino. “Pode interferir um pouco, na medida em que são dados pontos para anastomosar a bexiga com uretra, isso pode levar o pênis um pouco para dentro. No entanto, é pouco significativo. Para o paciente que mantém a ereção normal após a cirurgia não é um impacto importante”, afirma Santos.
Aos 52 anos, advogado Edmur Oliveira foi diagnosticado com câncer de próstata. A descoberta aconteceu durante exames de rotina e o prognóstico foi ruim. “Meu médico constatou um carcinoma grau 8, considerado grave. Marcamos a cirurgia e todo o órgão foi retirado. Logo após, como tratamento para evitar uma recidiva da doença, fiz radioterapia”.
Hoje, com 61 anos, o advogado lembra que, para realizar a cirurgia, ficou internado 3 dias no hospital e considera a fase de recuperação a mais difícil. “Fiquei com uma sonda e um dreno. O dreno foi retirado depois de alguns dias, mas a sonda, por qual passava a urina, foi comigo para casa e fiquei com ela 15 dias, pois você não consegue urinar, precisa reeducar seu canal urinário e tive que fazer isso aos poucos. Foi difícil porque tinha muitas dores no local e estava fazendo radioterapia, mas reagi bem”.
Uma das consequências que o advogado sofreu após o procedimento foi à incontinência urinária. “Quando faço exercícios físicos, uso absorvente masculino porque quando vou agachar, pegar peso ou contrair o abdômen sai um pouco de urina. Não me traz constrangimento nenhum, pois sou muito resolvido”, afirma. Seguro de si, 9 anos após receber o diagnóstico, Oliveira conclui: “Se eu não tivesse retirado a próstata, não estaria aqui”.