“Ele tinha ciúmes de tudo, desconfiava até mesmo quando eu ia fazer uma entrevista de emprego ou desligava o celular para assistir aula”. Esse é um breve relato do que a publicitária Patrícia Soares, 27 anos, viveu durante 7 meses ao lado de um ex-namorado abusivo.
O tema voltou a ser debatido após o programa da Rede Globo, Mais Você, veicular uma matéria, no Dia dos Namorados, na qual um jovem, a convite da produção, fez um jantar romântico para a namorada. Entretanto, a surpresa não saiu como todos esperavam, pois a menina não gostou de ser exposta nacionalmente e, em vários momentos, tratou mal seu parceiro. Algumas pessoas que viram a reportagem afirmaram que aquelas cenas demonstram que a namorada exercia um controle que poderia ser considerado abusivo.
A psicóloga Denise Salim esclarece que relacionamentos abusivos não existem apenas entre casais e que é comum encontrar relações de parentesco e amizades. “A pessoa abusiva consegue ir minando a saúde mental da outra e essa forma autoritária se manifesta tanto emocionalmente quanto fisicamente”.
Quem está nesse tipo de relacionamento apresenta novos comportamentos, como uma depressão profunda, ansiedade, falta de sono ou de apetite, além do afastamento do convívio social. “Os sinais, às vezes, são invisíveis. Os abusos, geralmente, começam com um discurso que diz que aquilo é para o bem da pessoa, mas, na verdade, são somente críticas sem qualquer motivo e isso pode prejudicar desde a saúde física até a vida financeira da vítima”.
Denise reitera que relações entre pais e filhos são as mais complicadas de se notar os excessos, pois a pessoa convive com aquela situação há anos e não consegue ter parâmetro do que pode ser saudável ou não. “Para sair do círculo vicioso é preciso tomar consciência da situação e procurar ajuda. Isso vale para o abusado ou abusador, pois o segundo também pode ter passado por situações abusivas na vida e está apenas repetindo o padrão. Para acabar com essa condição é necessário que todos sejam ajudados”.
Perfil de uma pessoa abusiva:
Ela é controladora, insegura, precisa se sentir poderosa e, para conseguir isso, procura quem é frágil ou mais fácil de controlar.
Perfil de uma pessoa abusada:
Ela é frágil, com autoestima baixa, tímida e sempre se sente inferior aos outros. Muitas vezes, essa situação pode ser reflexo de algo construído durante toda a sua vida.
Meses de tristeza
Patrícia relata que o ex-namorado a fazia passar por diversas situações constrangedoras. “Uma vez, entrou no meu e-mail de trabalho e ficou inventando coisas. Minha coordenadora chamava Fabiana e ele cismou que um tal Fabiano estava interessado em mim. Mas a gota d’água foi quando me fez brigar com uma amiga, porque dizia que ela estava dando em cima dele”.
Todavia, até tomar coragem para romper o relacionamento, foram 7 meses de tristeza e angústia. “Tudo era horrível e passei a chorar quase todos os dias, pois sempre era acusada de algo que não fazia. Um tempo depois do término, até pensei em voltar, pois ainda me sentia dependente emocionalmente. No entanto, os conselhos dos meus familiares foram fundamentais para conseguir aceitar que era melhor buscar outra pessoa”.
Apesar de todo esse sofrimento, Patrícia conseguiu dar a volta por cima e utiliza a sua experiência para ajudar mulheres que estão passando por situações semelhantes. “Hoje, eu atuo no Coletivo JuntaMais, uma startup que conecta advogados voluntários a mulheres em situação de vulnerabilidade social. Esses profissionais vão dar apoio jurídico de forma virtual e gratuita”, finaliza.