Em meio a tantas ofertas, promoções e lojas atraentes não é raro que uma pessoa se descontrole, compre sem pensar e acabe gastando mais do que deveria. Segundo dados do Indicador de Inadimplência, da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em fevereiro, o Brasil tinha 62,01 milhões de negativados, número 1,78% maior na comparação anual.
E para sair desse ciclo não é fácil. Ainda de acordo com pesquisa realizada pelas instituições acima, em média, foram necessários 14 meses para o pagamento das dívidas responsáveis pela negativação dos CPFs. Sendo que os débitos que levaram os brasileiros a ficarem com nome sujo são o cartão de crédito (33%), seguido pelo crediário (17% – percentual que sobe para 25% nas classes C, D e E), gastos com telefone fixo ou celular (16% – com maior participação nas classes A e B, com 21%) e empréstimos contraídos (12%).
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, apesar da melhora na economia, os dados de inadimplência ainda são preocupantes. “Se pensarmos que o cartão de crédito é a modalidade que os brasileiros mais devem nas altas taxas de juros cobradas, além do tempo que se leva para quitar a dívida, vemos que a situação não está tão boa”.
De acordo com os entrevistados, os maiores desafios encontrados na hora de renegociar o débito foram obter um bom desconto no valor total da dívida (27%) e negociar prazos, formas de pagamentos (24%) e não terem conseguido renda extra para quitar os compromissos em atraso (19%). Entre os motivos que impossibilitaram o pagamento dessas contas estão a redução da renda (42%), a perda de controle dos gastos (38%) e o surgimento de imprevistos (36%).
Saindo da inadimplência
Marcela reitera que para voltar a ter o nome limpo e acesso ao crédito é preciso colocar a vida financeira em dia antes de tentar uma renegociação com a empresa devedora. “É preciso organizar quanto se recebe e gasta para ver onde é possível tirar recursos para pagar o que está em atraso. Além disso, é necessário também uma avaliação pessoal no sentido de ver onde há o erro que o levou àquela situação”.
Ainda segundo o estudo, 68% tentaram negociar as dívidas que originaram a inclusão do nome em cadastros de restrição ao crédito antes de pagá-las. Desses, 43% procuraram o credor para propor um acordo e 24% foram procurados pela empresa para negociação. Por outro lado, 25% pagaram sem negociar e quatro em cada dez consumidores buscaram acordo para receber desconto adicional no pagamento à vista (44%), sendo a média do desconto de 35%.
A economista-chefe reitera que, para este ano, a expectativa é que a inadimplência caia, principalmente, no segundo semestre quando se projeta uma melhora na economia. “A possibilidade das pessoas quitarem suas dívidas, à medida que forem se recolocando no mercado, é grande, pois a maioria das contas são oriundas de um momento de queda da renda”.
E é exatamente a situação vivida pelo jornalista Renato Magalhães. Ele conta que está desempregado desde 2018 e, devido a isso, se complicou financeiramente. “Sem trabalho, você atrasa um mês, depois dois e com os juros altíssimos do cartão de crédito, a dívida se torna impagável”.
Atualmente, ele está com uma dívida de R$ 70 mil e não vê expectativas para quitá-la. “Não procurei o banco, porque não tenho condições de arcar com nenhuma negociação no momento, afinal não tenho renda mensal fixa. Meu primeiro objetivo é voltar a trabalhar e depois pensar numa forma e renegociar”, finaliza.