Home > Economia > Incerteza com economia brasileira ajuda na queda do ICEI em janeiro

Incerteza com economia brasileira ajuda na queda do ICEI em janeiro

Foto: Freepik.com

O cenário é de pessimismo na indústria brasileira em relação à economia no início de 2025. De acordo com dados do primeiro Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o indicador que mede as expectativas dos empresários para a economia brasileira nos próximos seis meses ficou em 42,5 pontos, diferente de janeiro de 2024, quando estava em 50,1 pontos, indicando otimismo.

De forma geral, o ICEI em janeiro de 2025 atingiu 49,1 pontos, um ponto a menos em relação a dezembro de 2024. Desde setembro do ano passado, o índice acumula queda de 4,2 pontos.

“Isso vem acontecendo devido a piora na avaliação das condições de negócio e uma percepção dos empresários de deterioração nas condições atuais da economia brasileira. Esse cenário está relacionado à mudança na política monetária, com os aumentos na taxa Selic e a variação na taxa de câmbio, impactando negativamente a indústria e a confiança”, explica o gerente de análise econômica da CNI, Marcelo Azevedo.

Outros componentes do ICEI registraram queda. O Índice de Condições Atuais recuou 2,3 pontos, atingindo 44,2 pontos. Na avaliação dos empresários, as condições atuais da economia e das empresas tornaram-se desfavoráveis em relação aos seis meses anteriores. O Índice de Expectativas diminuiu 0,4 ponto, chegando a 51,5 pontos. Segundo Azevedo, o número permanece positivo para os próximos meses devido ao otimismo dos empresários em relação às suas empresas. “Com 56 pontos, ele sustenta o índice acima dos 50 pontos”.

Política econômica

Para que a confiança dos empresários melhore nos próximos meses, Azevedo avalia ser necessária uma revisão da política monetária. “O Banco Central precisa retomar os cortes na Selic. Entendemos que a política atual está excessivamente restritiva para conter a inflação e observamos uma série de fatores que indicam desaceleração da economia, afetando a indústria e a atividade econômica como um todo”.

O economista Wallace Marcelino Pereira ressalta que a comunicação do governo federal tem sido deficiente, sendo necessárias melhorias para evitar incertezas econômicas na sociedade. “Uma economia cujos agentes estão tomados pela dúvida faz com que as expectativas negativas aumentem, e o efeito direto disso é a queda do investimento produtivo. Nenhum empresário vai arriscar investir se, na sua percepção, o cenário econômico está incerto e o governo não consegue sinalizar claramente qual será a estratégia para conduzir a política econômica”.

Ele também sugere maior assertividade na condução da política econômica. “Pouco se observa nas falas do Ministro da Fazenda, temas como investimento em infraestrutura, melhoria da produtividade, retomada da industrialização, qualificação da mão de obra e desburocratização. Ao falar apenas em arrecadação, cria a sensação de que o governo está preocupado apenas em garantir receitas. A qualidade do crescimento econômico é crucial para a indústria, pois ela pavimenta o caminho para decisões favoráveis ao investimento privado no médio e longo prazo”.

Governo Trump

Sobre o novo mandato de Donald Trump, Azevedo acredita que é necessário aguardar para ver como as promessas do republicano serão implementadas na prática. “Os Estados Unidos são um parceiro importante no setor industrial. Certamente surgirão oportunidades. A indústria brasileira precisa estar atenta para aproveitá-las e ocupar espaços nos EUA e em outros países, as mudanças que devem ser provocadas por medidas do novo governo”.

O economista destaca que Trump buscará realinhar a ordem econômica mundial em condições mais favoráveis aos EUA. Ele avalia que nos primeiros seis meses de gestão do republicano, a indústria estará menos disposta a ampliar sua capacidade produtiva. “No Brasil pode haver uma redução na atividade econômica. Internacionalmente, existe a possibilidade de os produtos brasileiros sofrerem taxações adicionais. O cenário é de incerteza, com expectativa neutra sobre os desdobramentos iniciais”.

“Não acredito que haverá grandes impactos nas exportações e nos acordos comerciais. Se Trump seguir o que tem dito, a inflação norte-americana poderá aumentar significativamente, prejudicando a imagem de seu governo. O foco principal será nas relações com a China. No caso do Brasil e outros países, as negociações devem ser pontuais e os impactos mais limitados”, finaliza.