De acordo com uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), o uso do cigarro eletrônico aumenta em mais de três vezes o risco de experimentação do cigarro convencional. Além disso, o levantamento reforça ainda que esses dispositivos elevam as chances daqueles que nunca fumaram usarem o cigarro tradicional. A oncologista Flávia Amaral Duarte lembra que 80% dos casos de câncer de pulmão estão relacionados ao tabagismo. Porém, ela ressalta que ainda não existem evidências científicas que relacionem a utilização dos vapes ao desenvolvimento da doença.
“É um produto novo e o que sabemos é que alguns estudos pré-clínicos mostram que eles induzem alterações nas células que podem se relacionar com o desenvolvimento do câncer. No futuro próximo poderemos ter dados que comprovem a condição, já que os cigarros eletrônicos possuem substâncias que são reconhecidamente cancerígenas”, reforça.
Ela alerta que o uso de cigarros eletrônicos pode causar outras doenças. “Existem casos de jovens que morreram por injúria pulmonar relacionada ao dispositivo. É como se tivesse uma inflamação aguda do pulmão, impossibilitando a troca de oxigênio e dando prejuízo importante na respiração. A utilização dos vapes pode causar lesões na boca e outros acidentes”.
Substituir o cigarro convencional pelo eletrônico não é recomendável, segundo aponta a oncologista. “Não é uma boa estratégia do ponto de vista de sensação de tabagismo. Vejo o cigarro eletrônico muito mais como uma forma de iniciação ao tabagismo, abrindo as portas para que o usuário tenha contato com o cigarro branco e o consumo de outras substâncias. Eles liberam uma concentração maior de nicotina em uma velocidade mais alta, o que acaba causando uma dependência maior”.
O uso de cigarros pode aumentar em 20 vezes a chance de desenvolver o câncer de pulmão, segundo o pneumologista Bruno Horta Andrade. “Isso porque o cigarro contém milhares de produtos de degradação da combustão do tabaco, grande parte deles cancerígenos. O cigarro a vapor é uma estratégia de modernizar o consumo do tabaco e atrair novos consumidores. Ele avança na medida em que não incomoda a sociedade por não gerar cheiro, mas ameaça por manter o consumo do tabaco em alta”.
Benefícios em parar de fumar
Interromper o uso do cigarro traz benefícios à saúde ao decorrer dos anos, como destaca Flávia. “A curto prazo já é possível notar a alteração do paladar e ter um olfato mais aguçado. De curto a médio prazo, consegue melhorar a capacidade pulmonar e a longo prazo, o cigarro está muito relacionado ao aumento do risco de doenças cardiovasculares como infarto, AVC e derrame. Quando o paciente para de fumar por um longo período, o seu risco passa a ser semelhante ao de uma pessoa que nunca fumou”.
Agosto Branco
O mês de agosto é dedicado para a conscientização sobre o diagnóstico precoce do câncer de pulmão. No Brasil, a estimativa do Inca é que até 2025, sejam diagnosticados 704 mil novos casos da doença.