Sob protestos da população belo-horizontina, no primeiro semestre de 2023, a Câmara de Vereadores de Belo Horizonte aprovou subsídio de R$ 500 milhões para pagamentos de motoristas e manutenção de frotas dos ônibus municipais da cidade. Porém, passados poucos meses, informações de bastidores mostram que cerca de R$ 100 milhões desse montante foram desviados. Não se sabe ao certo o caminho e destino final do dinheiro, mas sem dúvida causa estranheza o silêncio e ostracismo do todo poderoso Robson Lessa, dono da empresa de ônibus Saritur e presidente do Conselho do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH).
Estando em cargo tão importante para o setor em uma das maiores cidades do país, a atitude acomodada do conselheiro tem sido questionada. Para quem não se lembra, Lessa é o mesmo envolvido em denúncias de fraudes em licitações, compras de vacina clandestina contra COVID-19 e desvio de dinheiro público. Esses são apenas alguns capítulos da vida do empresário.
Não sendo poucas as manchetes negativas que já ocupou ao longo da carreira, Lessa, agora, pode estar envolvido ou ter conhecimento desse desvio, ao mesmo tempo que continua aumentando seu patrimônio pessoal e poder sobre pessoas e licitações. Ao que parece, a CPI dos Ônibus, que acontece atualmente na Câmara de Vereadores de Belo Horizonte, ainda não se atentou a esse fato.
Vale rememorar outros imbróglios envolvendo o nome de Lessa. No primeiro semestre desse ano, o presidente da Câmara de Vereadores da capital mineira, Gabriel Azevedo, apresentou documentos do Ministério Público de Contas de Minas Gerais com indícios de fraude na licitação de transporte de 2008, indicando falta de competitividade real na disputa. O responsável pela fraude teria sido, nada mais nada menos, que Lessa e a rede que o protege em troca de dinheiro e favores. A disputa teria sido só um teatro dos donos das empresas de ônibus. Robson Lessa foi interrogado e seu nome ficou de fora da denúncia. Outras pessoas seguraram esse BO em nome da amizade que os cerca.
Em meio a tantas estranhezas, também volta à cena outra história: em meados de 2023, uma operação da Polícia Federal esteve na sede da Saritur e na casa de Lessa, devido a descobertas que mostravam sonegação de impostos e falta de pagamento de Fundo de Garantia e INSS dos seus motoristas. Na residência, foram encontradas diversas garrafas de uísque e champanhe de R$ 3 mil cada. Além disso, outra operação da PF, que recebeu o nome de “Poderosa Família Rodoviária”, descobriu milhões de sonegação fiscal das empresas de ônibus da capital, entre elas a do senhor Robson Lessa.
Dentro dessa realidade, o Jornal Edição do Brasil recebeu o extrato de pagamento de um dos motoristas da Saritur. Além do salário sucateado, o FGTS e o INSS, não foram pagos, apesar de tudo ter sido descontado do funcionário.
Ao analisar o imposto de renda – exercício 2022 do empresário, também há uma incoerência que merece investigação. Enquanto na sua Fazenda Santa Rita não há nenhum investimento e custeio declarado, sua receita bruta mensal durante todo ano de 2022 foi de exatos R$ 44.210,00 por mês. Se não bastasse, declarou ter rendimento anual de R$ 58.580,39, valor incoerente para quem é dono da maior parte do transporte de BH, esbanjando bebidas caras e vida de luxo, que o permitiu até comprar vacina de Covid clandestinamente. Uma vergonha pelo ato e principalmente pela constatação posterior da vacina ser falsificada.
Uma fonte que não quis se identificar alega que a CPI em voga na Câmara de Vereadores precisa fechar o cerco em cima das empresas do ônibus e dos empresários que têm tantos problemas no currículo. Ele cita uma lista uma série de denúncias, mas o certo é que falta esforço e efetividade para checar tantas situações, tanto pela Polícia quanto pelos vereadores da capital, para que a roubalheira pare e o dinheiro do subsídio volte para quem é de direito, a população de Belo Horizonte. Robson é responsável pelo financeiro do sindicato patronal do qual é conselheiro, e seu silêncio acaba por prejudicar a imagem da instituição e de outros empresários.
A população deseja que a CPI dos Ônibus não termine em pizza e que aqueles que prejudicam o transporte público da capital, oferecendo serviços desconfortáveis e sem segurança, sejam punidos. Para isso, espera-se que a CPI tenha coragem de pedir à PF e à Receita Federal os materiais que provam as denúncias das operações Ponto Final e Poderosa Família Rodoviária.