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Exposição “Fístula” promove reflexão sobre as relações entre espécies

Foto: Jade Liz

“Fístula” é o nome da nova exposição da Piccola Galleria da Casa Fiat de Cultura, que fica em cartaz até o dia 6 de agosto. Também pode ser considerada uma intervenção que abre uma janela para acessar o desconhecido. A mostra apresenta 19 esculturas em cerâmica de ratos e uma de ovelha, obras de Iago Gouvêa. O artista plástico usa técnicas milenares na produção de peças contemporâneas que chamam a atenção pela visualidade e delicadeza, ao mesmo tempo em que promovem reflexões sobre a relação do ser humano com outros animais. A mostra foi escolhida no 6º Programa de Seleção da Piccola Galleria e tem entrada gratuita.

Em “Fístula”, trama proveniente desse habitat coabitado pelos humanos e pelos animais, une-se a um universo poético e serve de insumo para a produção dos trabalhos de Iago Gouvêa. As obras, apesar de causarem estranheza pelas deformações dos pequenos animais, são equilibradas pela aparência delicada da cerâmica. “A minha obra propõe reflexões relacionadas à objetificação dos animais por meio de uma produção artística que sintetiza, através das formas, essas questões”, pontua Gouvêa.

Entre paredes brancas e cinzas e cubos com tampo de aço inox, o artista cria uma atmosfera que remete aos laboratórios científicos, ambiente no qual alguns animais passam todo o seu ciclo de vida. O artista plástico apresenta a série “In vitro”, que vem sendo desenvolvida desde 2017, com 18 ratos cerâmicos e a obra “Objeto 01”, uma ovelha com uma cabeça e dois corpos. Cada um deles é uma representação de experiências laboratoriais, e são “manipulados geneticamente” por Iago para serem convertidos em objetos. Alguns ganham a dimensão de bibelô, com partes do corpo em formas de flores, galhos e asas.

A escritora, ensaísta e professora de literatura, Maria Esther Maciel, que assina o texto curatorial da exposição, ressalta que Iago Gouvêa traz à tona reflexões contundentes sobre os limites entre os humanos e não humanos. Para ela, as obras “oscilam paradoxalmente entre o anômalo e o ornamental, o descartável e o utilizável. Em qualquer dessas condições, sempre coisificados”, observa.

É a partir de pesquisas, e posteriormente do desenho, que o artista começa a criar as obras, mas é na experimentação com a argila que elas se revelam através de uma narrativa ficcional. O processo para criação de cada peça dura cerca de três dias.

“A argila, depois de modelada, vai para o forno para se tornar cerâmica, passa pela esmaltação, por uma queima em alta temperatura e, por fim, pela pintura da porcelana. “Gosto muito de trabalhar com a cerâmica. Este é um material que dura para sempre sem se transformar, que fica para contar histórias”, reflete.

Entre formas, imaginário e uma produção artística com técnicas apuradas, a exposição promove reflexões sobre a interação dos seres humanos com a natureza em suas diversas dimensões.

Ao tratar, na série “In vitro”, da cruel realidade dos ratos “de laboratório”, o artista confronta, com seus experimentos ficcionais em cerâmica, as experiências científicas que, sob a égide da arrogância humana, são feitas com animais convencionalmente considerados inferiores na hierarquia dos viventes.

Munido de uma inventividade incisiva, ele dispõe poeticamente os ratos cerâmicos em espaços frios e assépticos (próprios dos laboratórios), onde aparecem deformados, dissecados, derretidos, manipulados geneticamente e convertidos em objetos. Evidencia, assim, a situação limite desses pequenos roedores confinados em um ambiente artificial, impróprio para qualquer existência digna.

A visitação presencial acontece de terça-feira a sexta-feira, das 10h às 21h. Aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h (exceto segundas-feiras). Para realizar o tour virtual, basta acessar o site.