Em meio às polêmicas, o Governo do Estado optou, na semana passada, pela homologação do projeto de construção do rodoanel, obra que, a partir de 2024, prevê edificar cerca de 100 km de via no entorno da capital mineira com o intuito de minimizar o impacto do trânsito.
É importante salientar que, atualmente, o Anel Rodoviário que circunda Belo Horizonte está saturado, ocasionando dezenas de acidentes, além de deixar um rastro de mortes incomensurável. Portanto, a intenção de criar um espaço para desafogar o tráfego, especialmente com o deslocamento para os carros pesados, não é uma má ideia. No entanto, os executores da obra do novo acesso não devem ignorar os pedidos de quem está no epicentro dessa discussão, ou seja, os municípios por onde o traçado prevê implementar a rodovia em nome de melhor mobilidade de toda a região.
O assunto vem ocupando as páginas dos jornais há mais de um ano. E, para não deixar a temática só nos gabinetes, os prefeitos de Betim, Vittorio Medioli, e de Contagem, Marília Campos (PT), acionaram a Justiça, garantindo haver uma série de inconvenientes, pois o traçado previsto pelo documento oficial impõe, na visão desses municípios, riscos à bacia hidrográfica da Vargem das Flores, uma das fontes de abastecimento hídrico da região metropolitana. Eles alegaram ainda que o traçado indica obras em bairros densamente povoados, inclusive comunidades tradicionais, como o quilombo dos Arturos.
Controvérsias à parte, o governo mineiro anunciou formalmente que caberá ao grupo italiano INC S.P.A., vencedor da licitação, a incumbência de elaborar o projeto a ser iniciado no prazo de 60 dias. No documento do poder público fica estabelecido que o novo parceiro terá a obrigação de dialogar com as comunidades para que haja a devida liberação do licenciamento e, consequente, permissão para a projeção das obras.
A construção deverá consumir cerca de R$ 3,07 bilhões do governo mineiro, cujo aporte se concretiza tendo em vista o acordo realizado com a Vale, após o desastre de Brumadinho. O grupo parceiro terá a responsabilidade de alocar mais de R$ 2 bilhões e isso, como não poderia deixar de ser, habilita aos italianos o direito à concessão do trecho pelo período de 30 anos.
A justificativa técnica para a implementação do empreendimento diz respeito a uma realidade, segundo se expõe no documento oficial, que ocorrerá o deslocamento para a nova pista de, em média, 5 mil caminhões e a diminuição de mil acidentes por ano em toda a região próxima a Belo Horizonte. Assim, por enquanto, ainda não foram feitos os cálculos referentes ao impacto positivo do Produto Interno Bruto (PIB), que deverá oscilar em torno de 7% a 10% nos próximos 10 anos, mediante a geração de 10 mil empregos diretos e indiretos.
O trabalho do secretário de Infraestrutura e Mobilidade Urbana do Estado de Minas Gerais, Fernando Marcato, a partir de então, visa buscar entendimentos para o licenciamento ambiental e a regulação fundiária. Esse projeto, em toda a sua extensão, é polêmico, mas, quem conhece o problema relacionado a atual situação de adensamento do Anel Rodoviário, sabe da necessidade de conceber uma alternativa, até porque, ao longo de décadas, muitas foram as vidas ceifadas, além dos prejuízos aos proprietários de veículos.
Para além desta constatação, se impõe o diálogo, especialmente ouvindo, na medida do possível, e atendendo muitas das demandas dos municípios por onde se ampliará o traçado da nova pista. Agora, mais do que nunca, a busca do consenso, tão comum entre os mineiros, está em pauta para o bem de todos, evitando que o tema fique embrenhado na Justiça, um caminho capaz de até mesmo inviabilizar a obra.