Desde o dia 29 de junho a flexibilização de reabertura do comércio na capital retrocedeu e apenas os serviços considerados essenciais pela prefeitura puderam continuar com suas atividades. Um dos motivos para essa paralisação da abertura foi o avanço do coronavírus. Contudo, pesquisas recentes nos mostraram que, mesmo com essa interrupção, o índice de isolamento social na cidade não caiu.
Tentam culpar a reabertura do comércio pelo avanço da doença. Muitos dizem que os empresários não visam se preocupam com a saúde, somente com o lucro. E que a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/ BH) está incentivando aglomerações. Nada disso é verdade.
Vamos aos fatos: o aumento do número de casos já estava previsto para o mês de junho. No dia 22 de maio, o Número Médio de Transmissão por Infectado, que é um dos indicadores definidos pela administração municipal para avaliar o processo de flexibilização, já registrava 1,09. Ou seja, antes da primeira fase de reabertura do comércio. No dia 26 de junho, quando a prefeitura da capital decretou o retrocesso da flexibilização, o índice permanecia em 1,09. Uma prova matemática de que a reabertura do comércio não foi a responsável pelo aumento dos casos.
Nosso incentivo não é para que as pessoas saiam de casa sem motivos necessários e, consequentemente, gerem aglomerações. Nossa luta é para uma reabertura gradual e segura de todo o comércio, sempre focados em salvar vidas, manter empresas e garantir empregos. Não se trata apenas de economia, mas de um sustento básico. Entre as empresas da capital, 95% são micro e pequenas, das quais proprietários e funcionários dependem para manter a alimentação e as despesas básicas de suas famílias. Mais de 11 mil empresas já encerraram suas atividades desde o início da pandemia em Belo Horizonte. Esse fechamento afeta diretamente a qualidade de vida de todas as famílias que se beneficiavam desses negócios.
Sabemos que nada está acima da vida. E é exatamente por isso que estamos fazendo nossa parte e, dentro do que nos compete, buscando conscientizar as pessoas para que cumpram os protocolos de segurança recomendados pelas autoridades em saúde. A CDL/BH teve uma atitude pioneira quando, em meados de março, antes do fechamento do comércio, fez uma campanha de prevenção. Visitamos 31 centros comerciais distribuindo material informativo sobre os novos procedimentos que deveriam ser adotados para combater a doença.
Após a reabertura, em maio, fizemos uma grande campanha junto aos estabelecimentos para que voltassem às atividades de forma a garantir a segurança e a saúde dos colaboradores e clientes. Também instalamos mil faixas em toda a cidade com mensagens educativas pedindo para usar a máscara e evitar aglomerações.
Em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), instalamos 50 totens com álcool em gel nos terminais e estações de transporte coletivo. Cerca de 800 mil pessoas passam por esses locais e terão ao seu dispor essa proteção. Enfim, são medidas pensando na preservação das vidas.
Reiteramos diariamente nosso compromisso e luta pela vida. Somos uma entidade que representa 12 mil associados. Nosso setor é o responsável por 72% do Produto Interno Bruto (PIB) de Belo Horizonte. Mais de um milhão de pessoas trabalha no comércio e depende dele para sustentar suas famílias. Possivelmente, para muitos, esses números são somente números. Mas é preciso entender que saúde e economia precisam andar de mãos dadas. Uma família sem renda vê sua rotina desabar. O acesso precário à alimentação, água tratada, luz e tantos outros itens afetam diretamente a saúde. Por consequência, a busca por auxílio em centros de saúde aumentou, o que faz com que o sistema fique ainda mais sobrecarregado. Ou seja, uma bola de neve que pode ficar ainda maior e mais veloz se a economia da cidade não for assistida.
O que vemos diariamente é uma economia agonizando e também um sistema de saúde inchado, no qual leitos prometidos não foram entregues. Não podemos deixar que dois setores tão essenciais para a cidade sejam ainda mais sucateados.
Em todo esse processo, que já dura 4 meses, podemos ter cometido alguns equívocos. Mas jamais fomos omissos. Jamais deixamos de representar com muita dignidade os setores de comércio e serviços da nossa capital. E assim seguiremos. Iremos lutar diariamente para que os empresários e lojistas possam reaver suas atividades, com segurança, conscientização e dignidade. O comércio não tem culpa. Ele também pede socorro.
*Marcelo de Souza e Silva
Presidente da CDL/BH