Não é novidade que as brasileiras são criativas e, por isso, o empreendedorismo feminino tem crescido a cada ano. Uma prova disso é que 24 milhões delas abriram negócios próprios no país, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A pesquisa aponta que é comum elas se tornarem a principal fonte de renda da casa tanto que, nos últimos 2 anos, o número de mulheres que injetam mais dinheiro em seus lares subiu de 38% para 45%.
Os dados revelam ainda que as empreendedoras brasileiras possuem um nível de escolaridade 16% superior aos homens, mas ganham 22% menos do que os empresários. A proporção de novos empreendedores no país – os que têm um negócio com menos de 3 a 5 anos – é maior entre elas: 15,4% contra 12,6% de homens.
De acordo com a economista Bruna Allemman, o principal fator que leva as mulheres a empreender é a desigualdade de gênero. “Em 10 anos trabalhando no mercado financeiro, vi inúmeras mães sendo desligadas das empresas depois que voltaram de licença maternidade. Isso ocorre, muitas vezes, porque entende-se que a mulher terá menos tempo e disposição para trabalhar”.
Ela acrescenta que há um tabu do crescimento da mulher no mercado. “A insegurança das pessoas em contratar alguém do sexo feminino, infelizmente, ainda é grande. Existem várias pesquisas que mostram que homens não se sentem confortáveis em serem liderados por mulheres, por exemplo”.
Bruna afirma que o poder feminino tem tido grande impacto no mundo dos negócios. “A mulher lidera de uma forma diferente, o comportamento de uma líder tende a atingir mais as relações humanas. Consequentemente, lida melhor com vários tipos de pessoas e situações”.
Reflexos
A especialista afirma ainda existir reflexos do machismo no mercado corporativo. “Quem diz o contrário deve refletir se já tomou alguma decisão profissional baseada no gênero, por exemplo. Isso é um problema sério, pois existem setores que são ocupados, majoritariamente, por homens, e outros em que a mulher é usada pela beleza e não pelo conhecimento”.
Inclusive, Bruna revela ter entrado para essa triste estatística. “Tinha 21 anos, um filho de 2 e perdi uma oportunidade de estágio. Me recordo de no processo seletivo ter sido elogiada pelos recrutadores, mas, mesmo assim, não fui a escolhida. Hoje, percebo que fui julgada por ser mãe”.
Mas parece que esse cenário está mudando. “Temos grandes empreendedoras que tem dado exemplo, como Rachel Maia, SEO da Lacoste, Cristina Junqueira, co-founder da Nubank, Camila Coutinho que fez seu nome virar marca mundial por meio do seu blog e tantas outras que mostram os lugares que podemos e devemos ocupar”, assegura.
A economista enfatiza que a luta não é fácil. “Decidir trabalhar e querer destaque no mundo corporativo é acordar, vestir uma armadilha e sair para a labuta. Todo dia, terá uma luta diferente, não só pelo trabalho, mas pelo simples fato de ser mulher”.
Autoconfiança
A treinadora comportamental, Priscila Guskuma, liderava uma equipe masculina no seu antigo trabalho. “Tive medo, por isso, minha primeira ação foi liderar pela força e imposição de regras. Queria me mostrar forte a todo momento e isso não era bom para ninguém. Achava que eles queriam me boicotar, não acreditavam na minha capacidade e não me aceitavam”.
Priscila conta que, no primeiro momento, liderar 32 homens parecia algo impossível. “Foi uma grande escola. Aprendi a desenvolver habilidades que não imaginava, a buscar soluções rápidas para os problemas e a confiar mais em mim. Me tornei uma empreendedora e percebi que era hora de começar uma carreira autônoma”.
Ela afirma que o empreendedorismo mudou sua vida. “Amadureci rápido e aprendi a ser resiliente. A autoconfiança é a chave de tudo. Sonhe alto e use isso como motivação para acordar todos os dias e dar o seu melhor. Não importa quais são seus desafios, saiba que eles irão te fortalecer e te levar a níveis mais altos. Se nós, mulheres, acreditarmos em nós mesmas, as pessoas não terão outra alternativa a não ser acreditar também”, conclui.