Para mais da metade dos empregadores do Brasil está faltando certas habilidades no mercado. Pelo menos é o que aponta a pesquisa Escassez de Talentos, do ManpowerGroup, empresa global de recrutamento e seleção. Segundo o levantamento, divulgado durante o Fórum Econômico de Davos, o índice de 52% representa um crescimento de 18 pontos percentuais (pp) em relação aos indicadores de 2018 no país, quando a taxa era de 34%. No Brasil, a pesquisa teve início em 2010 e o maior indicador foi de 71%, apontado em 2012.
Já considerando outros países, a média global ficou em 54% e foi a maior já apresentada em 10 anos de pesquisa, apontando crescimento de 9 pp em relação ao levantamento anterior e quase o dobro de 10 anos atrás. Empregadores dos Estados Unidos (69%), México (52%), Itália (47%) e Espanha (41%) também relatam dificuldades no preenchimento de vagas específicas.
Os dados apresentados causam estranhamento quando lembramos da amarga taxa de desemprego: mais de 11 milhões de brasileiros estão em busca de emprego, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). Para Janaina Fidelis, psicóloga e consultora de carreiras, a velocidade das mudanças acontecendo no mundo do trabalho, nos processos e na entrega de produtos e serviços são os principais fatores para desarmonia entre mercado e trabalhadores.
“O crescente uso da tecnologia, os novos mercados e a abertura de outros negócios exigiram qualificações que, até pouco tempo atrás, tinham baixa demanda. E os profissionais não se prepararam para essas mudanças, gerando uma grande lacuna entre as necessidades das empresas e as qualificações oferecidas pelos profissionais”, avalia.
Segundo o levantamento, as empresas médias (50-249 funcionários) são as que têm mais dificuldade em preencher vagas, com 61%, seguidas de grandes (mais de 250 funcionários), com 59%, e pequenas (10-49 funcionários) e micro (menos de 10 funcionários), com 44% e 27%, respectivamente.
Entretanto, a pesquisa não aponta apenas mão de obra de nível superior escassa. Pelo contrário, o primeiro lugar no ranking das habilidades mais difíceis de serem encontradas são as profissões de ofícios, como eletricistas, soldadores e mecânicos. “O que pode explicar a dificuldade de preenchimento das vagas técnicas-operacionais é o acesso facilitado a cursos superiores e outras qualificações. Até alguns anos atrás, formações em nível médio técnico eram umas das poucas oportunidades de entrar no mercado de trabalho. Hoje, o profissional tem mais acesso a outros cursos, assim como tem possibilidades de criar seu próprio negócio ou até mesmo uma nova profissão”, acrescenta.
As mudanças no mercado de trabalho também são apontadas pelo estudo, que cita a “estratégia holística de talento”, que consiste em contratar, treinar e reter os colaboradores com melhor desempenho para a adaptação à era digital. “Essa estratégia não tem mais volta. É um grande desafio, mas já é possível identificar experiências positivas no Brasil. Para atrair e reter talentos as empresas que ainda não estão fazendo isso, precisarão investir fortemente em aspectos que consideram como qualidade de vida, equidade, valorização das diferenças, diálogo aberto e aprendizado. Soma-se à experiência do cliente, que sempre foi tão importante, à experiência do colaborador”, finaliza Janaina.