Ele é a 23ª pessoa em campo. Na hora do jogo, precisa estar atento para agir com firmeza e justiça, pois tem o poder de tomar decisões em lances que podem ser cruciais no futebol. Por isso, precisa também ter um psicológico equilibrado, já que frequentemente esse profissional – e, muitas vezes, sua mãe – são ofendidos por torcidas inconformadas. A vida do árbitro não é fácil. Em Minas Gerais, de acordo com a Federação Mineira de Futebol (FMF), existem cerca de 300 árbitros mineiros atuando no estado. E o plano é formar mais profissionais para estar em campo até 2020.
“Para ser um bom árbitro é preciso juntar quatro pilares: físico, técnico, mental e social. E o que define um bom juiz é a dedicação e consistência nas atuações”, explica Joel Tolentino, diretor da Escola Mineira de Arbitragem Márcio Rezende de Freitas. Hoje, um interessado em apitar jogos precisa se formar no curso de 230h da FMF, com duração de 6 meses. Além da formação, o aluno deverá ser um devoto das normas estipuladas pela Comissão de Arbitragem. “E uma reputação retilínea e limpa”, acrescenta Tolentino.
Com investimento inicial de R$4.500, o aluno deve pesar na balança que a atividade não é regulamentada e, portanto, muitos árbitros têm outros empregos. Mas com a chegada do árbitro de vídeo (VAR) e o número de partidas em diversas categorias, Tolentino garante que o retorno financeiro é certo. “Temos vários jogos no país, desde o amador até o profissional. Quanto ao valor depende da categoria de cada árbitro e também da partida ou divisão. Mas, em média, durante o ano ele trabalha de 6 a 10 meses, dependendo da disponibilidade. Este árbitro consegue recuperar todo o investimento atuando em jogos amadores”.
Juliano Lobato, presidente da Comissão de Arbitragem da FMF, também acredita que a chegada do VAR deve expandir o mercado. Atualmente, o recurso de vídeo é utilizado apenas na série A do Campeonato Brasileiro, mas para Lobato a adaptação virá de forma natural. “O VAR é uma evolução que veio para somar. Tenho certeza que os árbitros se adaptarão à ferramenta e o tempo para tomada de decisão, que hoje demora muito, será reduzido. É uma ferramenta que veio para legitimar os resultados das partidas”, afirma.
O autônomo Hiury Bertolin, 24, sempre gostou de futebol. Até que notou que costumava estar mais atento a atuação do juiz em campo do que no jogo em si. “Na busca por uma profissão, comecei a procurar especializações na área para começar a atuar como árbitro”, conta. Apesar de considerar o investimento alto, seu foco é o retorno. “Todos começamos de baixo, no amador e em divisões de base. Então, a recompensa pelo investimento vem, mas tem que ter calma e ir conquistando espaço aos poucos. Hoje, um árbitro de categoria CBF ganha, em média, R$ 2.900 por jogo de série A e R$ 1.000 num jogo de série B. Já um árbitro da FIFA, a maior categoria, recebe em média R$4.000 em uma partida de série A e R$ 2.200,00 numa partida de série B”. Em categorias de base, os valores variam de R$ 160 a R$ 260 por jogo.
Para Bertolin, a regulamentação da profissão é necessária devido a dedicação exigida no trabalho em campo. “Conheço várias pessoas que têm a arbitragem como profissão e principal fonte de renda. Mas, não dá para querer ser um árbitro de alto nível e ter uma outra profissão que sugue todas as forças e que exija muito, pois para atuar em alto nível na arbitragem é necessário treino físico de forma constante todos os dias. Para mim, o maior desafio é equilibrar uma alimentação saudável e um condicionamento físico de alto nível”, diz.
Com formação prevista para janeiro de 2020, o futuro árbitro palpita o jogo dos seus sonhos. “Seria apitar uma final de Libertadores com Boca Júniors e River Plate”.