Inicialmente, permitam-me ser um pouco didático. Por meio de toda a história da humanidade, até bem recentemente, a fala era o único meio de comunicação realmente importante. As pessoas podiam se comunicar diretamente apenas em distâncias que podiam ser alcançadas por suas vozes ou, em alguns casos, pela visão de gestos. Para distâncias maiores eram necessários mensageiros, como Fidípedes que, em 490 a.C., caiu morto após correr 42 quilômetros para dizer aos atenienses que os persas haviam sido derrotados em Maratona. (Veio daí a Maratona, a clássica prova das Olimpíadas).
Com o desenvolvimento do alfabeto e sua assimilação por um número cada vez maior de pessoas, a comunicação passou também a ser feita por escrito para extensões maiores. Mas também tinham de ser transportadas por alguém – caminhando, galopando ou navegando. Mesmo as substituições, dois séculos atrás, do cavalo pela estrada de ferro e do barco a remo por navios, não deram grande rapidez aos comunicados. Claro que existiam outros meios, como sinais de fumaças por indígenas e reflexos de luz por meio de superfícies brilhantes, mas que dependiam de condições atmosféricas e podiam ser captadas por qualquer pessoa e não apenas pelos destinatários.
O uso de corrente elétrica por meio de fios surgiu como alternativa. Em 1.844, utilizando o código para o qual deu o seu nome, Samuel Morse enviou a primeira mensagem telegráfica da história: “Que foi que Deus fez”. Apenas 22 anos mais tarde, já existiam cabos telegráficos submarinos estendidos através do Oceano Atlântico, ligando os Estados Unidos à Inglaterra.
Em 1.876, outro avanço espantoso: Graham Bell patenteou o telefone, invento revolucionário que transmitia a voz humana por fios ao invés de um código de pontos e traços. Com a facilidade, a comunicação passou a ser também fútil em grande escala. Em 1.888, Heinrich Hertz aprendeu a maneira de produzir e captar ondas de rádio; 13 anos após, Marconi utilizou estas ondas e conseguiu enviar mensagens atravessando o oceano Atlântico. Em 1.890 foi comprovado que a corrente elétrica envolvia partículas menores do que o átomo e 5 anos depois Thomson descobriu o elétron que, por ser ainda mais leve do que átomo, tornou possível sua manipulação no vácuo e o surgimento, em 1.906, da chamada “válvula de rádio”. Tudo se acelerou em 1.948 com o transistor, que nada mais é do que o equivalente em estado sólido à válvula de rádio, não possui vácuo e por ser minúsculo não precisa ser pré-aquecido. Os gigantescos computadores iniciais deram lugar a aparelhos de espaços mínimos – exemplo disso são os celulares que, praticamente, todo mundo possui.
Deixando a história mais recente de lado (como o surgimento da internet, tão previsto em antigos livros de Isaac Asimov), é preciso salientar que o que realmente nos diferencia das outras espécies de vida, é a comunicação, a troca de ideias, de informações, com a qual a inteligência se expande e pela qual o conhecimento de um ser pode ser o conhecimento de todos.
O mundo não vive mais numa clausura, mas temos que ficar em estado de permanente alerta para o perigo que, hoje, enfrentamos com a comunicação desenfreada e sem nenhum controle quanto à sua veracidade. Se assistir a um telejornal, ouvir rádio ou ler jornal já não garantem que estamos conhecendo realidades, muito pior, ou infinitamente pior, são as redes sociais de toda espécie que viralizam cada vez mais.
No meu último artigo, citando notícias mentirosas divulgadas (e depois desmentidas) por poderosos órgãos de imprensa, lembrei que “para complicar de vez, hoje está difícil saber o que é ou não verdade”.
Tão ou até mais nocivos do que as fake news são alguns jogos que ensinam tudo de ruim a quem os acessa, inclusive como matar. E há ainda sites que pregam toda espécie de maldades, induzindo principalmente jovens a praticá-las. Massacres recentes, como de Suzano, são a prova.
E você, caro leitor, o que acha? Se não sabe, pelo menos faça a sua parte, desconecte-se de redes sociais suspeitas, alerte e ajude a controlar o ímpeto de crianças, jovens e adultos inocentes ou mal-intencionados, de acessar links e jogos não confiáveis. E mesmo quando tudo parecer “do bem”, verifique. Já há inúmeros casos de hackers invadindo até sites de desenhos animados para propagar o mal.
É difícil saber o que fazer. Se houver o quase impossível controle efetivo de sites e redes sociais, será uma abominável censura. Se nada for feito, será omissão, mas há quem diga que é melhor errar por ação do que por omissão.
*Sérgio Prates é jornalista Reg. 1229 – MG / e-mail pratesergio@terra.com.br