Nascido em Rosário, o argentino Diego Gamarra, de 40 anos, percorreu o mundo até decidir cultivar raízes em Belo Horizonte, especificamente no bairro Santa Tereza, com a construção do seu maior projeto: a Casa Circo Gamarra.
A Casa, em 2 anos, foi palco para ensaios de grupos de música, teatro, circo, artistas plásticos, deu apoio para a filmagem de um curta-metragem, cenário para uma sessão de fotos eróticas do pole-dance, recebeu lançamento de um livro, além das propostas da própria Casa. “Já recebemos escolas, idosos, um grupo de pessoas com síndrome de Down de Contagem. A Casa é aberta para qualquer tipo de proposta”, conta Gamarra, artista circense, palhaço e idealizador do espaço.
Gamarra conheceu BH em 2004, mas só fixou residência em 2007. “Sempre escutei falar de Belo Horizonte, seja pela referência do Grupo Galpão ou de festivais de circos que aconteciam aqui”. Hoje, vê seu sonho se concretizar ao receber eventos culturais que prezam pela pluralidade.
“Muitos me perguntam se aqui é uma escola. A Casa Circo Gamarra é a minha casa antes de tudo. Também é um espaço de criação artística e compartilhamento de afeto, a nossa principal bandeira é contra a xenofobia. Um local em que todas as tribos se sentem bem-vindas”, explica.
Por lá, já passaram a “Semana do Equilíbrio”, na qual foram recebidas oficinas de perna de pau, acrobacia dupla, corda bamba, rolo e escada. A Casa também já sediou a “Semana Gastronômica do Imigrante”, em que os viajantes cozinham pratos típicos de seus países.
Os mochileiros que por lá se hospedaram ao longo de mais de uma década ocupam um papel importante na história. “Sempre tive o desejo de ter um galpão. Só que os aluguéis são muito caros, então, decidi comprar um ‘barranco’ na Vila Dias e construir meu próprio espaço. Já tem quase 12 anos e muitas mãos trabalharam nele, muitos mochileiros que se hospedaram aqui ajudaram na construção, seja na carpintaria, marcenaria, pintura e até na organização dos eventos”.
Além da renda do trabalho de Diego como palhaço, a Casa se mantém com o fluxo das pessoas. A venda de materiais circenses, o funcionamento de lanchonetes durante os eventos e a cobrança de uma taxa de R$ 20 dos viajantes são fundamentais para o espaço se manter. “A Casa está aberta para doações, principalmente, de materiais de construção e de audiovisual”.
Por que BH?
O amor pela arte circense fez ele percorrer a América Latina. “Com 18 anos, larguei tudo e fui viajar pela Argentina. Com 21, fiz Chile, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, entrei no Brasil pelo norte e fiquei em várias capitais: Manaus, Boa Vista, Belém, Salvador”. Mas por que o mochileiro das Américas escolheu Belo Horizonte? As respostas estão nas relações profissionais e pessoais.
Ele trabalhou no circo “De todo mundo”, no Instituto HAHAHA e no “Fica vivo”, programa do governo estadual que tem como objetivo controlar e prevenir a ocorrência de homicídios em áreas de alta criminalidade, por quase 10 anos, atuando, principalmente, na Pedreira Padre Lopes, a favela mais antiga de BH. Por aqui, também tornou-se pai. “Tenho um filho de quase 12 anos e isso foi fundamental para ter minha residência, apesar de continuar viajando e ter feito turnê na Europa e América Central”, diz.