Uma das pautas mais difíceis de aprovação do novo governo, caso se confirme, é o encaminhamento da proposta de privatização da Companhia Energética de Minas Gerais S.A. (Cemig). Sobre esse assunto, os ânimos já estão exaltados. Para ser aprovada, uma Emenda Constitucional depende de dois terços dos 77 deputados. E, como consta da Carta Magna Mineira, também é necessário referendo popular. Nesse âmbito, as lideranças contra a venda da estatal mineira já se movimentam e a resposta promete ser ferrenha.
Um grupo de liberais se reúne discretamente todas as semanas para levantar dados e informações para embasamento na mobilização da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (ALMG) na hora necessária. Segundo essas lideranças, se tudo acontecer como planejam, em um possível dia de ato contra a privatização, cerca de 1 milhão de pessoas poderiam se reunir, em praça pública. O tema é de interesse não só de Belo Horizonte, mas também de cidades do interior, especialmente dos municípios mais pobres do Estado.
Primeira impressão
Os deputados que estiveram no primeiro encontro formal com o governador Romeu Zema (Novo), na Cidade Administrativa, saíram como chegaram: de mãos vazias. Houve por lá, a promessa de transparência e de respeito ao parlamento mineiro, mas soluções para as demandas dos 21 parlamentares da base governista na Casa Legislativa não entraram na pauta.
Na ocasião, alguns políticos ficaram incomodados com a presença de muitas pessoas na sala e na hora dos encontros reservados cada um teve, em média, apenas 4 minutos. “O governador pode ter permitido a presença de estranhos por excesso de democracia ou para evitar que alguém fosse atrevido o bastante para fazer pedidos além do previsto”, ironiza um dos presentes.
Segundo participantes, Zema prometeu, a partir do mês de abril, quando espera estar em uma situação mais tranquila, uma visita individualizada a cada gabinete, na Assembleia, com intenção de manter um diálogo permanente com os poderes.
Falta de apoio
Os assessores palacianos precisam ficar atentos a realidade da ALMG de que são 77 deputados, sendo que 56 estão aglutinados em três blocos diferentes: um, intitulado de oposição e dois considerados como “independentes”. Esse comportamento é mantido na hora da votações. Por exemplo, segundo informações de bastidores, muitos dos parlamentares que foram eleitores do atual governador, especialmente, no segundo turno, têm posicionamentos discordantes em relação ao projeto de Reforma Administrativa, enviada pelo Executivo.
Também se comenta sobre o estilo administrativo do governador. Zema, provavelmente por anseio em fazer a coisa certa, estaria concentrando demasiadamente as decisões oficiais. Isso, segundo avaliações, termina prejudicando as ações de auxiliares importantes, especialmente, a quem é dada a tarefa de diálogo com os demais poderes, trabalho do secretário de Estado, Custódio Mattos e o do próprio líder do Governo na Assembleia, Luiz Humberto.
Somado a isso, os problemas de ordem financeira se acumulam na prateleira do governo mineiro e, por parte dos prefeitos, não há sinalização de tolerância. O presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), Julvan Lacerda, tem enviado o seu recado: quer saber como fica a resolução referente ao valor atrasado do repasse financeiro às prefeituras.
Não bastasse essa pressão, as lideranças dos funcionários públicos, especialmente integrantes das forças de segurança, estão aguardando o momento oportuno para se manifestarem contra o governador. Ou seja, a era Zema no Palácio da Liberdade está completando 60 dias de administração, com muitas demandas, todas elas de difíceis soluções.