Apesar de um período de crise financeira, o brasileiro ainda não aprendeu a forma correta de cuidar do seu dinheiro. Uma prova disso é que segundo dados do Indicador de Inadimplência da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), 62,6 milhões de brasileiros, ou seja 41% da população adulta, encerraram 2018 com CPF restrito para contratar crédito ou fazer compras parceladas.
Isso representa um avanço de 4,41% na quantidade de consumidores com contas em atraso na comparação com 2017. Para se ter uma ideia do que esses valores representam, trata-se do ano em que a inadimplência apresentou o crescimento mais elevado desde 2012.
Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, diz que esse ano deve ser melhor do que 2018 em relação à economia, com mais dinheiro circulando e, consequentemente, mais empregos também, porém isso pode ser perigoso. “Quando temos uma época de abundância, as pessoas acabam se sentindo mais ricas, perdem o cuidado com as finanças e é nesse momento que se endividam”.
De acordo com a pesquisa, na faixa-etária entre os 30 e 39 anos se observa a maior frequência de negativados. Em dezembro, mais da metade (52%) tinha o nome inscrito em alguma lista de devedores, somando um total de 17,8 milhões. Outros que merecem destaque são as pessoas entre 40 e 49 anos, afinal 50% estão negativados.
A economista afirma que o endividamento nesse período da vida acontece porque se concentra muitos gastos, como, por exemplo, a compra de um imóvel, filhos, carro, etc. “Para qualquer mudança é necessário um planejamento prévio, entretanto, as pessoas não fazem isso”.
Já os consumidores com idade entre 25 e 29 anos esse número cai para 44% e entre os mais jovens de 18 a 24 anos, a proporção também tem queda de 17% – em número absoluto estamos falando de 4,1 milhões de pessoas. Na população idosa, considerando-se a faixa-etária entre 65 a 84 anos, a proporção é de 32%.
E, segundo dados abertos pelos credores, em 2018, as contas básicas com serviços essenciais para o funcionamento da residência, como água e luz, foram as que mais cresceram no período, um avanço de 14,88%. Já as dívidas bancárias, que englobam cartão de crédito, cheque especial, financiamentos e empréstimos, ficaram em segundo lugar no ranking, com crescimento de 6,81% na comparação anual. As dívidas contraídas no comércio e com boletos de telefonia, TV por assinatura e internet caíram -5,09% e -0,37%, respectivamente.
Bola de neve
A jornalista Karina Rossi, 33, é uma das brasileiras que está com o nome negativado. Ela conta que a primeira dívida apareceu quando precisou mudar de casa e pegou um empréstimo para pagar o caução (valor que o locatário deve entregar para o proprietário do imóvel como garantia). “Após a mudança, perdi o meu emprego e não tive como arcar com o valor que peguei no banco. Além disso, confesso também que sou uma pessoa enrolada, tenho cheque devolvido de academia que fui três vezes, conta de celular de R$ 100, cartão de loja de departamento de R$ 125, etc”.
A dívida de Karine é de aproximadamente R$ 5 mil, porém, ela afirma que não tem condições para quitá-la. “Moro sozinha e tenho uma filha para sustentar, por isso, não sobra nada no final do mês. Inclusive, estou precisando de um novo apartamento, mas não consigo mudar porque o meu nome está sujo”.
Repensando hábitos
Marcela afirma que para conseguir quitar todas as dívidas é necessário planejamento e disciplina. “Para quem está negativado aconselho colocar todas as contas na ‘ponta do lápis’ e adaptar o seu estilo de vida ao que ganha. Não é fácil organizar todo o orçamento e muito menos cortar algo que gosta, mas, às vezes, é necessário. Ademais, destaco também que é preciso disciplina para pagar o que foi combinado com os credores, pois não adianta renegociar a dívida e não pagá-la”.
Ela acrescenta também que para aqueles que não têm dívidas atrasadas, o ideal é ter uma reserva financeira. “Imprevistos sempre acontecem e precisamos estar preparados para encará-los”, finaliza.