Apesar dos jovens serem os mais afetados pela falta de emprego – segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de 14 a 24 anos desempregada cresceu para 5,6 milhões no primeiro trimestre deste ano, 600 mil pessoas a mais em relação ao fim de 2017 (alta de 11,9%) -, eles não aceitam qualquer oportunidade de trabalho e estão sempre em busca de aperfeiçoamento.
De acordo com pesquisa realizada pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), que contou com a participação de 28.972 jovens entre 15 e 26 anos, 65,88% (19.086) apontam como o principal motivo para sair de um emprego “a chance de ser promovido para um cargo melhor e ter outras experiências”.
Yolanda Brandão, gerente de treinamento do Nube, afirma que, na maioria dos casos, essa troca tem a ver com a expectativa que os jovens colocam em relação ao trabalho. “Isso vai além da questão da sobrevivência. Eles entendem que a experiência no mercado tem que ter alguma realização e agregar conhecimento. Caso isso não aconteça, na primeira oportunidade, sairá da empresa”.
Outro ponto destacado pela gerente é a autossatisfação em exercer a função. “Se a pessoa não vê propósito ou valor naquilo que faz, isso pode ser um fator para buscar outro trabalho. Caso não o faça, será um funcionário reclamão e desmotivado”.
O estudo revelou também que 13,92% (4.034) trocariam de trabalho se recebessem uma proposta para ganhar um pouco mais. Yolanda explica que a remuneração é parte fundamental de qualquer relação de trabalho, porém não é o único aspecto que deve ser levado em conta para manter um colaborador.
“Se a remuneração é baixa, ele ficará insatisfeito. Entretanto, se o salário é bom, isso não necessariamente vai aumentar o nível de motivação, porque existem outras questões fundamentais na forma de encarar o trabalho, como o relacionamento entre os colegas e, principalmente, com as lideranças. Esse assunto é tão importante que empresas mais modernas já se preocupam com a gestão do clima organizacional”.
A especialista reitera que a má relação entre os colaboradores é um fator determinante para muitos jovens trocar de emprego. “Normalmente, as empresas com o clima ruim tem uma grande rotatividade de pessoas, porque isso tende a afastá-las. Muitas vezes, elas dizem que foram embora, pois conseguiram um cargo melhor, mas o que motivou a saída pode ter sido uma questão de relacionamento”.
[box title=”Dica!” bg_color=”#ddd7ad” align=”center”]Yolanda afirma que é importante avaliar com cuidado as decisões, sempre colocando na balança o que é mais relevante e tudo o que vai se ganhar mudando de emprego. “O jovem tem que preocupar com o futuro também, pois a carreira começa aos 20 anos e vai acompanhá-lo ao longo da vida”.[/box]
Mudança de perfil
Ao contrário das gerações anteriores, os jovens, justamente por essa vontade de procurar novas experiências profissionais, não ficam muito tempo em um local. Yolanda ressalta que essa mudança no perfil obrigou os setores de recursos humanos a olharem essas pessoas de uma maneira diferente da tradicional.
“Há 15 anos, quando comecei a minha carreira, recebíamos um currículo de um jovem com experiências muito curtas e ficávamos desconfiados, achando que ele tinha algum problema ou algo do tipo. Hoje, o entrevistador que tiver esse critério terá poucas opções, pois é muito característico que quando há a possibilidade de várias carreiras, principalmente em estágio, a pessoa tente diversas áreas”.
A jornalista Larissa Souza foi uma das que aproveitou bastante o período de estágio durante a faculdade. Ela conta que, durante os 4 anos da graduação, passou por seis lugares diferentes: dois dentro da própria universidade, um projeto social na qual dava cursos para adolescentes carentes, uma empresa na qual trabalhou na assessoria de imprensa e em duas emissoras de televisão.
“As minhas experiências durante a faculdade foram fundamentais para o meu desenvolvimento como profissional, pois na sala de aula aprende-se apenas a parte teórica e nos estágios colocamos em prática”, finaliza.