O carro quebrou, precisou ir ao dentista ou a casa necessita de uma reforma – essas são algumas possibilidades que podem abalar o orçamento familiar. De acordo com pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), diante de imprevistos da ordem financeira, 66% dos brasileiros afirmam que não estão preparados para lidar com a situação. O índice de bem-estar financeiro é medido pela entidade desde 2017, porém não é avaliado por ter dinheiro sobrando e poder lidar com imprevistos, mas envolve, também, assegurar o futuro e aproveitar o presente.
A pesquisa mostra ainda que apenas 11% dos entrevistados dizem estar aptos a lidar com problemas financeiros. A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, salienta que em todas as pesquisas é possível perceber que as pessoas não colocam a vida financeira como prioridade. “Há a dedicação para se ganhar o dinheiro, mas não existe o empenho em se organizar financeiramente. E diante de uma despesa inesperada acaba-se não conseguindo arcar com os custos, pois não houve o cuidado necessário”.
Marcela explica ainda que a metodologia aplicada para o desenvolvimento da pesquisa foi feita por um órgão americano e a instituição adaptou para aplicação.
Pilares que vão além da conta
- Proteção contra imprevistos: somente 11% se dizem preparados
- Controle sobre as finanças: situação financeira controla a vida de 31% dos brasileiros
- Compromisso com os objetivos financeiros: 55% dos consumidores afirmaram que não estão assegurando o futuro financeiro
- Liberdade para fazer escolhas que lhe permitam aproveitar a vida: apenas 12% têm condições de aproveitar a vida por causa da forma que administra o dinheiro
A economista ressalta que esses pilares são muito interessantes e vão muito além da conta. “Muita gente acha que bem-estar financeiro é fazer um compra ou sobrar dinheiro, as pessoas tem um foco muito específico. Só que percebemos que esses quatro pilares são amplos. Aproveito para destacar o 4º que é liberdade para fazer escolhas. O bem-estar financeiro te dá liberdade em outros campos da vida. Ter uma boa relação com o dinheiro te propicia, por exemplo, escolher se aposentar mais cedo, fazer uma viagem longa etc”.
De olho nas finanças
Em março, o indicador marcou 48,0 pontos, mas o resultado não se distanciou da média dos últimos meses que foi de 47,6 pontos. Em relação aos números por gênero, a pesquisa mostra que, entre os homens, o nível de bem-estar financeiro foi maior, sendo 49,4 pontos; já entre as mulheres o índice foi de 46,6. Segundo a economista, a disparidade entre homens e mulheres se dá, principalmente, por motivos culturais. “Muitas famílias ainda tem o homem como principal provedor e responsável pelo controle do dinheiro. Diante disso, ele se torna um privilegiado na questão, pois tem mais experiência com a organização das finanças”.
Para ela, os jovens também tem um baixo índice de bem-estar devido à falta de conhecimento. Na comparação com os consumidores mais velhos: na faixa etária superior aos 50 anos, o indicador pontuou 50,3; já na faixa de 18 a 34 anos, marcou 46,2.
Entre aqueles pertencentes às classes A e B, a pontuação média foi de 53,1, superior aos 46,5 pontos das classes C, D e E. Já entre os consumidores que declararam estar no vermelho, isto é, sem conseguir pagar todas as contas no momento da sondagem, a pontuação média do indicador foi de 44,1, abaixo da média nacional. Para os que disseram estar no azul, a média foi de 55,4 pontos.
O vendedor Walter Burjaily, 46, é um bom exemplo de organização. Ele conta que usa o famoso caderninho para fazer o seu planejamento. “Anoto tudo que ganho e que gasto. Junto dinheiro há uns 10 anos e, hoje, tenho uma boa quantia guardada”.
Perguntado sobre a receita de poupar, Burjaily diz que é importante estabelecer uma meta. “Não guardo o que sobra, pois tenho estabelecido o que quero guardar por mês. Mas também separo uma parte para a aproveitar a vida, como viagens para roça e minha cervejinha”.
Organize-se:
Junto ao Indicador de Bem-Estar Financeiro, o SPC Brasil também lançou o aplicativo SPC Consumidor, onde os consumidores podem fazer o cálculo do seu próprio bem-estar financeiro e comparar com a média nacional. O app está disponível para usuários Android e IOS.