O mundo se transforma de forma radical. Nada mais resiste muito tempo. Qualquer novidade lançada no mercado, em qualquer segmento, envelhece rapidamente, muitas vezes bem antes de conquistar espaço maior. É fácil observar este fenômeno. Você compra um equipamento, um carro, uma roupa ou qualquer outra coisa e rapidamente a novidade fica defasada.
O mercado funciona cada vez mais com este objetivo. Lançar novos produtos a cada dia. Nem que seja mudando a cor ou formato. Na área da tecnologia então é assustador.
Acabou aquele tempo romântico de conservar bens duráveis ou não duráveis durante anos a fio, ou até acabar, como os mais velhos costumavam falar. Pode até ser cruel, mas na verdade quase tudo hoje em dia é descartável. Se demorar muito, a moda fica fora de moda.
No futebol por mais incrível que possa parecer, a regra é diferente. Existe uma resistência ou medo incrível de inovar, de lançar novidades. Veja o caso dos treinadores. Os clubes insistem em viver dentro de um círculo vicioso, contratam sempre os mesmos nomes, figurinhas carimbadas, que pouco ou nada acrescentam.
Quando surge a oportunidade ou necessidade de lançar um jovem treinador a pressão e a desconfiança tomam conta. O cara só fica se der resultado positivo rapidamente. Caso contrário a volta ao velho e experiente treinador é inevitável. Serve como escudo para esconder erros mais profundos.
Deveria ser o inverso. Priorizar um treinador mais rodado, mais experiente para comandar os jovens da base, com a missão de dar formação forte para a garotada, deixando todos bem preparados para subir e dar sequência a carreira.
A mesma coisa com relação aos jogadores. Os dirigentes falam em alto e bom som que o projeto prioritário é investir na base. Formar talentos. Suprir as necessidades do time principal. Como discurso é uma maravilha, mas na prática raro acontecer.
Os clubes mantém centenas de jovens treinando e jogando durante anos. Gasta uma dinheirama danada. Perdem um tempo enorme. No fim de cada ciclo o aproveitamento é mínimo. Às vezes nem isso.
Aí começa o problema. Para tentar suprir a deficiência, partem para contratação a peso de ouro de algum jogador famoso, com passagem por diversos times importantes, com idade avançada para um atleta de alto rendimento, descartados pelo mercado externo e com dificuldades físicas.
Difícil dar certo. Rapidamente vem a decepção, a ira da torcida, a tentativa de enganar todo mundo com desculpas esfarrapadas e o pior, fica um prejuízo financeiro imenso.
Grande parte das dívidas dos clubes podem ser creditadas a esta política errada, desenvolvida mais com o coração do que com a razão.
Não é coisa de agora. É uma cultura praticada faz tempo. Parece uma tentativa irresponsável de apagar um erro cometendo outro erro igual ou parecido.
Uma pena que seja assim. Bom seria uma mudança de atitude. Alguns clubes, até por falta de dinheiro ou crédito já começam a trabalhar de forma diferente. Vem dando chance aos jovens. Dando moral como se diz no meio. Mas ainda não é uma regra normal. Serve apenas para quebrar galho. O futebol mudou. Todo mundo sabe. Prevalece agora o vigor físico, a velocidade, a vontade de mostrar serviço, ganhar fama e dinheiro. Predicados e desejos que os jovens tem de sobra.
Evidente que não dá para montar um time ou um elenco só com jovens. É preciso saber dosar. Mas não dá para engolir determinados times apostando só em jogadores maduros, com dificuldades visíveis de dar conta do recado, em detrimento de vários garotos bons de bola passando o tempo no come e dorme ou esquentando banco.
Longe da ideia de desmerecer ou descartar os mais velhos, eles já cumpriram a missão, uns mais, outros menos, mas todos deram sua contribuição e merecem respeito e gratidão, mas tudo tem um tempo logico e biológico. O mundo se transforma a cada segundo, a vida é cada vez mais rápida e dinâmica e o futebol precisa acompanhar esta incrível evolução.
Pelo que sentimos e observamos, ele carece de juventude.
*Presidente da Associação Mineira de Cronistas Esportivos (AMCE)