Home > Geral > Cresceu em 400% o número de buracos em Belo Horizonte

Cresceu em 400% o número de buracos em Belo Horizonte

Dados de diversos aplicativos de trânsito mostram um aumento de 400% no número de buracos na capital mineira. A informação vem dos próprios usuários que alimentam as plataformas com avisos de fendas nas vias de Belo Horizonte. Na temporada sem chuva do ano (abril a outubro), a média de alerta foi de 36 por dia. Já no período chuvoso (outubro a fevereiro deste ano), a média passou para 149 diariamente, número quatro vezes maior.

Durante o tempo chuvoso até o momento, o maior nível pluviométrico foi registrado no dia 7 de fevereiro. Isso, inclusive, gerou interdições pela cidade, todas organizadas pela Prefeitura de BH e lançadas no Waze – aplicativo de trânsito – pela Defesa Civil. Por se tratar de um sábado, o índice de alertas teve um reflexo na segunda-feira seguinte, dia 9, totalizando um pico de 371 sinalizações de buraco.

O especialista em tecnologia de trânsito, Arthur Fernando Vieira explica que, em longo prazo, o aumento do número de buracos se dá ao crescimento da quantidade de veículos circulando nas últimas décadas. “Em curto prazo, observamos ciclos com picos nos períodos de chuva”.

Vieira elucida que, embora o Barreiro tenha o maior aumento proporcional, a campeã de pavimentos com problemas em números absolutos foi a Pampulha. “Essa região apresentou um total de 5.027 alertas de usuários do Waze no último período chuvoso”.

Ele acrescenta que, geralmente, as vias mais danificadas na temporada chuvosa são as de menor porte. “Como as locais e coletoras – no interior de bairros -, ou naquelas com trechos de inundação, como a Avenida Tereza Cristina”.

O especialista afirma que para entender a relação entre chuvas e buracos é preciso saber como funcionam as camadas da via. “O pavimento pode ser formado por várias camadas e elas devem ser impermeáveis a fim de assegurar que o solo abaixo fique seco. Dessa forma, o conjunto se mantém estável e o solo não cede, formando buracos em curto e médio prazo”.

No caso de BH, ele esclarece que grande parte das ruas foram pavimentadas em um período quando não se pensava na quantidade de automóveis que teríamos hoje e, portanto, não receberam uma estrutura proporcional aos tipos de veículos que circulam nela (como ônibus e caminhões). “Como resultado, o pavimento frágil se racha e permite a infiltração de água no solo, tirando sua estabilidade e criando afundamentos”.

Outro fator que aumenta a permanência de buracos no período de chuva é que, para reparar a via, é necessário que o solo esteja seco. “Portanto, uma operação de recapeamento ou tapa-buracos só pode ser feita após alguns dias sem chuva, e a quantidade de fendas se acumula quando temos dias seguidos sob essa condição de tempo. Quanto mais chuvas ocorrem, maior a infiltração de água e maior fica a área suscetível a danos”.

Ele ressalta que, além desses casos, há aqueles em que as enxurradas e transbordamentos forçam o pavimento a se descolar do solo. “Como vimos nas avenidas Tereza Cristina e Prudente de Morais nos últimos anos”.

Vieira ainda comenta que, mesmo com menos carros circulando devido ao isolamento social, é preciso levar em conta a dinâmica de como surge um buraco e as condições das nossas vias. “Se, por exemplo, tivermos um volume de 1.000 carros no período seco e todos eles circularem no período de chuvas, certamente, teremos mais buracos neste último caso”.

Outro ponto que ele destaca é que, com base tanto em dados da BHTrans como também do Waze, a quantidade de veículos e de trânsito teve uma queda brusca no início da pandemia. “Apesar disso, ao longo do ano, as pessoas voltaram a circular e a volume de veículos e de engarrafamentos cresceram gradativamente. Embora não tenha voltado aos níveis antigos, tivemos mais automóveis circulando no período de chuva do que no de seca”.

Consequência

O especialista alerta que o crescimento no número de buracos pode acarretar prejuízos financeiros e acidentes graves. “Acerca de danos materiais, os carros estarão sujeitos a avarias nos pneus, como furos, desbalanceamento, rasgos ou estragos irreparáveis, levando a perda de segurança e estabilidade”.

Ele aconselha que o conjunto da suspensão do automóvel deve ser reparado e alinhado precocemente. “Dependendo da situação, até o motor do veículo pode ser danificado e causar prejuízos de, no mínimo, milhares de reais. Em casos mais graves, podemos citar queda de motociclistas ou mesmo de um pedestre estando sujeitos a sequelas imprevisíveis”.

Porém, ele observa que a extensão total desses danos é incalculável, pois atinge várias dimensões. “De forma mais direta, por exemplo, uma pessoa acidentada, que fica afastada de seu trabalho, pode ter dificuldades no sustento da família e perderá qualidade de vida por conta de sequelas. A troca precoce de peças de veículo também trará prejuízo ambiental, pois gera lixo. Além desses, algumas profissões que aumentaram recentemente (como motoristas de aplicativo) deixarão de trabalhar ao deixar seu carro na oficina”.

Soluções

Para solucionar o problema, Vieira esclarece que é preciso agir sobre as causas controláveis. “Não podemos impedir chuvas, mas podemos fazer com que os pavimentos tenham maior durabilidade. Uma solução em curto-médio prazo seria a conservação e melhoria de vias com baixa resistência”.

Além disso, trabalhar na pavimentação de qualidade, especialmente em vias de bairros (locais e coletoras) e organizar o trânsito de forma compatível com o uso das ruas também é um caminho para solução. “Direcionar o fluxo de veículos pesados (ônibus e caminhões) para vias com estrutura mais robusta e reduzir a circulação naquelas mais frágeis. Já em longo prazo, especialmente em um cenário pandêmico, a solução é a redução geral do modal automotivo. Fomentando o uso de aplicativos de carona (carpools) e transporte público de qualidade, sobretudo o metrô ferroviário”.