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Papelarias registram queda nas vendas devido a retorno indefinido das aulas

Os meses de dezembro, janeiro e fevereiro costumam ser de intenso movimento nas papelarias por conta do começo do ano letivo. No entanto, desde março do ano passado os estudantes estão em ensino remoto, o que impactou a demanda por material escolar. A maioria dos pais também pretende reaproveitar parte dos itens comprados em 2020. Além disso, os responsáveis não vão gastar dinheiro agora, diante das incertezas em relação ao retorno das aulas presenciais. Com isso, os estabelecimentos do setor amargam prejuízos que podem chegar a 40% a menos no faturamento.

De acordo com o economista Fábio Lacerda, a pandemia afetou diversos setores e com o de artigos de papelaria não foi diferente. “O início de 2020 estava indo tudo bem, mas de março até agora os lojistas só tiveram quedas devido às aulas estarem sendo de modo remoto. Em algumas cidades, os estabelecimentos tiveram que fechar totalmente e somente on-line e entrega em domicílio não foram capazes de dar conta de manter o negócio”.

Ele explica ainda que, neste ano, os pais estão inseguros em comprar material escolar, pois não sabem quando as aulas vão retornar. “O que tem acontecido é que muitos estão adiando essa aquisição e estão usando os itens do ano passado. Alguns apenas gastam com algum produto que esteja acabando como é o caso de lápis, borracha, entre outros”.

Lacerda diz que muitos estabelecimentos correm o risco e fechar, pois, as vendas não são suficientes para mantê-los. “Principalmente aqueles que precisam pagar aluguel. O que tem dado ânimo aos lojistas é o início da vacinação. Muitos acreditam que ainda esse ano as aulas poderão ser retomadas e os pais voltarão a comprar o material escolar. Assim, os danos serão diminuídos”.

Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo de Souza e Silva, a grande maioria dos varejistas não fez estoque. “Caso as aulas sejam retomadas, as fábricas não terão capacidade de um atendimento rápido. Por isso, teremos uma falta momentânea de mercadoria. O meu conselho aos pais é não postergar mais essa compra. Os comerciantes estão elaborando alternativas de vendas, como parcelamento em até 10 vezes e entrega em casa”.

Ele esclarece que as papelarias estão fechadas em Belo Horizonte. “O setor solicitou à prefeitura que, ao menos nos meses de janeiro e fevereiro, sejam considerados serviços essenciais. Assim, poderemos abrir e ter possibilidades de faturamento e sobrevivência das empresas. Porém, nossa luta não está restrita apenas a esse segmento. Já comprovamos com números muito bem embasados que todo o comércio já pode voltar com segurança, pois ele não é o responsável por acelerar o avanço de casos de COVID-19 em nossa cidade”, conclui.

Prejuízos

Márcia Caldas é proprietária de uma papelaria e diz que tem amargado prejuízos desde o ano passado. “Tivemos as vendas do início de ano e um bom faturamento. Mas, durante 2020, toda a procura por itens escolares foi muito pequena. Além disso, a loja precisou ficar fechada por um tempo e o on-line e delivery não suprem nossa demanda. Nós buscamos comercializar outros produtos como brinquedos e livros educativos. Por isso, as perdas não foram tão grandes. Mesmo assim, o faturamento foi cerca de 40% menor. O estabelecimento também é próprio, pois se tivesse que pagar aluguel já teríamos fechado faz tempo”, explica.

Quem também está sentindo os reflexos e vem tendo pouco lucro é Wanda Garcia, também dona de uma papelaria. “Início de ano era sempre uma loucura, com loja cheia e várias listas de materiais das escolas. Em 2021, o movimento está tímido e muitos estão reaproveitando o que não foi usado no ano anterior. Nós nem fizemos grande reposição do estoque. O que tem saído bastante são canetas, lápis e cadernos. Nosso faturamento reduziu uns 30% e não contratamos nenhum funcionário para ajudar, uma vez que não tivemos demanda”, lamenta.

Reaproveitamento

A recepcionista Mariana Ribeiro diz que os filhos, um de 9 e outro de 11 anos, praticamente não usaram o material escolar em 2020. “Eles entraram em ensino remoto desde março e boa parte da lista que eu já tinha adquirido nem foi mexida. Normalmente, faço a compra dos itens ainda em dezembro, mas como está tudo incerto, pretendo reaproveitar muita coisa como caderno, lápis de colorir, apontador, principalmente as mochilas que estão novinhas. Já fiz as contas e devo gastar cerca de R$ 350 a menos”, conta.

Também estudando de forma remota, o filho da assistente de marketing Camila Cardoso pouco utilizou os materiais. “Fui à papelaria em janeiro de 2020 para comprar a lista e pouco tempo depois parou tudo por conta da pandemia. Vou adquirir apenas itens que já estão gastos como borracha, lápis. Pretendo reaproveitar tudo que der, até mesmo alguns cadernos que estão novinhos e outros com muitas folhas em branco. Em 2021, a palavra de ordem será economizar”.