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O Brasil dos caminhoneiros

Nos últimos 10 dias, o Brasil parou. Tudo porque boa parte dos donos dos 54 mil caminhões, financiados pelo BNDES a preços subsidiados pelo governo petista, decidiu paralisar o transporte de bens e mercadorias, afetando o abastecimento no país. Um movimento à primeira vista de cunho reivindicatório, para redução dos preços dos combustíveis que o governo, espertamente, concluiu, que sendo um pedido de caminhoneiros só estava direcionado para o óleo diesel, desencadeando então o movimento paredista.

Infelizmente, a pauta de reivindicações foi mal formulada. Os preços da gasolina e do gás de cozinha ficaram esquecidos no bojo dos pedidos. Deu no que deu.

No meio do movimento, resolveram acrescentar a gasolina e o gás nas reivindicações, só que foi tarde para movimentar o apoio generalizado da sociedade. Ainda mais quando se dissiparam vídeos nas redes com chamamentos estapafúrdios de invasão do Congresso e do Planalto com as carretas do movimento.

E mais, com uma greve extemporânea dos petroleiros, sem qualquer reivindicação salarial e fomentada por uma figura que se dizia coordenador do sindicato da categoria, mas que fazia parte da mesa de líderes petistas como a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o ex-ministro Ricardo Berzoini, conforme comprovado nas redes sociais.

Em outras palavras, o movimento dos caminhoneiros foi e vem sendo infiltrado por interesses políticos, que não dizem respeito às reivindicações da classe, mas tão somente em causar a cizânia política, tendo como mote um movimento justo, livre e democrático.

Por isso, quando o movimento paredista começa a se arrefecer, faz com que os baderneiros de plantão se tornem mais afoitos em disseminar vídeos e gravações forjadas, para confundir a população, desacostumada da forma de agir dos aproveitadores dos momentos de insegurança social.

Para quem se lembra e já viveu esta mesma situação na década de 1960, sabe bem o que tal movimento representa ou pode desencadear: o fim da estrutura política-democrática, o que nesta altura da vida política e institucional brasileira não interessa a ninguém.

Só que se não forem adotadas medidas mais drásticas para coibir o vandalismo e os atos de aproveitadores de plantão neste momento conturbado, a enorme população desinformada será conduzida tal como um rebanho de ovelhas, conduzida (e mal) por meia dúzia de vozes de comando, cujas palavras de ordem soam doce e enfaticamente aos ouvidos daqueles que querem ouvir por acreditar.

Prova deste vandalismo está sendo disseminada nos grupos de WhatsApp com filmagem de vândalos atacando os carros particulares nas filas dos postos, com pedaços de pau e outros utensílios, destruindo vidros e amassando os veículos, geralmente com mães e filhos desprotegidos tudo para amedrontar a população e evitar que abasteçam seus veículos, como forma de manter aceso o movimento paredista.

Tal situação, a permanecer, jogará por terra toda a estratégia de reivindicações do movimento, a favor da redução dos preços dos combustíveis, virando mais uma ação frustrada em favor da população. Pior que a falta do combustível é o desabastecimento de gêneros alimentícios nos supermercados e feiras. Este sim será o mal maior a atingir a população com reações inimagináveis, depois de mais de uma dezena de dias de paralisação dos transportes.

O risco de uma convulsão social hoje se torna iminente, caso a situação não seja imediatamente contornada ou resolvida. Não se trata de uma apologia do caos. Mas a análise de um retrato da vida real, onde os artífices de hoje são réplicas dos mesmos da década de 1960 e que tanto mal causaram à nação, com a sobrevinda de um estado de exceção que durou mais de 20 anos.

Não estão faltando vozes pedindo uma intervenção militar com fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, como se esse fosse o caminho para o país. Quem defende tal ideia, não leva em conta que o Brasil hoje é totalmente diferente, no âmbito internacional, do que foi em 1964.

É hoje uma nação interdependente de países desenvolvidos, onde os anseios democráticos falam mais alto nas relações comerciais entre as nações, o que vale dizer, que um retrocesso na política interna brasileira, poderá surtir muito mais efeitos negativos para o fortalecimento da nossa economia no curto prazo.

Portanto, é chegada a hora de uma tomada efetiva de decisão política, com uma drástica revisão da política tributária brasileira, como forma de conduzir ao arrefecimento dos humores da nação.