Dois fatos recentes chamaram a atenção do mundo: em março uma mulher foi sequestrada, em Santa Catarina, e para soltá-la os bandidos exigiram um valor bilionário em zcash e monero (criptomoedas) que deveria ser depositado em e-wallets (uma espécie de carteira digital). E em maio, aconteceu o maior ataque de hackers de todos os tempos, quando mais de cem países e diversas empresas foram afetados. Os criminosos criptografam os dados das companhias e para liberar o acesso pediram um valor em bitcoin (criptomoeda).
As histórias têm dois pontos em comum: ambas são sequestros – a primeira de uma pessoa e o segunda de informações. E nos dois casos a quantia deveria ser paga em criptomoedas – moedas digitais que estão cada vez mais em alta no mercado financeiro.
João Carlos Oliveira, coordenador de inovação do Instituto de Ciências Exatas e Informática (ICEI) da PUC Minas, explica que as criptomoedas são semelhantes as moedas que usamos no dia a dia, como o Real, porém não possuem exemplares físicos, apenas na web. “O comportamento das pessoas têm mudado, principalmente em relação ao e-commerce. Estamos muito ligados às novas tecnologias e utilizando-as para consumir diversos produtos”.
Para o pesquisador, as moedas digitais são uma tendência tanto no quesito de investimento quanto para futuras transações comerciais. “Isso tem chamado muita atenção dos mercados mundiais, inclusive já existem diversos países que as criptomoedas circulam e há aqueles que estão buscando criar a sua própria moeda virtual”.
Ele acrescenta que, devido às facilidades trazidas por essa nova modalidade, elas estão sendo bem aceitas pelo público. “Não precisamos mais carregar moeda e isso é muito bom, porque dificilmente vamos ser roubados. Além disso, o consumidor está gastando muito mais o cartão e deixando de lado o dinheiro”.
Bitcoin
Existem diversas criptomoedas, porém a mais conhecida e valorizada é a bitcoin. “A cotação no mercado está mais ou menos em R$ 15 mil, no entanto, como esse setor é muito volátil, ao mesmo tempo em que ela pode valorizar bastante, também pode cair repentinamente”.
Essa criptomoeda é produzida de maneira descentralizada por milhares de computadores, mantidos por pessoas que “emprestam” a capacidade de suas máquinas para criá-las e registrar compra e venda. Esse processo é conhecido como “mineração”.
Para evitar que haja muitas bitcoins no mercado e sua desvalorização foi criado os níveis de dificuldade de desafios, que são reajustados por uma rede, com o intuído de fazer com que ela cresça dentro de uma faixa limitada – no máximo 21 milhões de unidades até o ano de 2140.
Todas as transações envolvendo bitcoins são de pessoa para pessoa, não existe nenhuma instituição que delimite ou regulamente isso. Caso queria adquirir uma criptomoeda, você deve conhecer alguém que a possua e negociar diretamente com ele.
“As criptomoedas têm um fundamento para existir, as pessoas e o comércio precisam aceitá-las e isso está acontecendo. Para se ter uma ideia, já existe um caixa eletrônico de bitcoins dentro de uma startup em Belo Horizonte”, finaliza João Oliveira.
Desde maio, V.L.S.* decidiu investir em criptomoedas. Ele conta que começou, após estudar um pouco sobre o assunto. “Depois de ganhar alguns satoshi (a menor parte de um bitcoin), resolvi investir em outro lugar. Não tive uma experiência muito boa porque o retorno iria demorar bastante. Então, peguei o que tinha investido e mandei para uma casa de câmbio de criptomoedas e, desde então, eu só faço trader (indivíduo que se engaja na transferência de ativos financeiros para alguma instituição ou para si próprio), que é compra e venda de moedas digitais”.
Para quem pretende começar nessa área, V.L.S. aconselha muito estudo. “Isso é algo muito arriscado e do dia para noite pode-se ter um grande lucro ou perder bastante dinheiro. A bitcoin é a primeira moeda digital, a mais forte e a ideia é muito interessante por não ter um Banco Central controlando. Entretanto, o seu preço de mercado é controlado de acordo com a demanda e especulação do mercado. Para se ter uma base, o valor da bitcoin dobrou desde o dia em que comecei a ler sobre o assunto. Ele pode ser um investimento a longo prazo, mas é bastante arriscado. Não sei até quando vai continuar sendo interessante investir em moeda digital”.
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*A pedido, o nome do personagem foi mantido em sigilo.