Lembra daquela brincadeira dos bons tempos de criança. Pois é, ela voltou forte nos últimos dias. O gato lambeu e comeu as taças dos dois maiores times de Minas. De forma inédita, Cruzeiro e Atlético chegaram à final das duas competições mais importantes do continente. Um na Copa Sul-Americana e o outro na Copa Libertadores. Não eram favoritos absolutos, mas tinham nos pés ou na cabeça a oportunidade de chegar ao topo e entrar para a história consagrados.
Tudo parecia bem desenhado. Com campanhas excelentes, ultrapassaram adversários famosos e poderosos. As comissões técnicas e os jogadores pregaram discursos positivos, com depoimentos comoventes e promessa de dar a vida em troca da vitória. Encheram seus torcedores de esperança, tanto a nação celeste como a massa atleticana, ofereceram apoio incondicional. Lotaram as arenas e deixaram nos cofres montanhas de dinheiro. Até os místicos deram uma força. Vários apontaram os mineiros como vitoriosos. Tudo parecia caminhar na trilha certa. A comemoração era só uma questão de tempo.
Porém, o futebol tem seus caprichos. A bola é teimosa, ranzinza, brava e cruel. Quando não é bem tratada revida com vontade. Ela não gosta de teoria. Só obedece em termos práticos. É o que se viu dentro do gramado. Dois times apáticos, sem força, sem saber o que fazer. Na final Sul-Americana, o Cruzeiro foi massacrado nos primeiros 20 minutos de jogo. Levou dois gols infantis. Erros grotescos dos seus defensores. No segundo tempo, o Racing cozinhou a raposa em banho-maria. Levou um gol, mas no final fechou a tampa do caixão com um terceiro gol. Fez um placar olímpico e levou o troféu.
O Cruzeiro foi presa muito fácil. Na verdade, caminhou bem mais longe do que se esperava. Mostrou um elenco deficiente em termos de qualidade técnica. Para complicar, resolveu trocar de treinador, tirou um novato e contratou um profissional cheio de grife e ideias mirabolantes. Um professor que resolveu inventar um novo jeito de jogar futebol. Não deu certo e o time que já não era lá grande coisa, piorou.
No Atlético, a mesma toada. Enfrentou o Botafogo na final da Libertadores e não deu conta do recado, mesmo jogando contra dez. O treinador, que parece não ter boa leitura de jogo, não conseguiu tirar proveito da situação. Ficou perdido, sem saber o que fazer. Esperou a sorte ajudar. Levou dois gols no primeiro tempo.
Voltou para a segunda etapa para tentar o tudo ou nada. Trocou jogadores, mesmo porque não tinha outra opção. O barco já estava à deriva. O adversário, bem treinado e com bons valores, enrolou, segurou, deu espaço para o Atlético atacar. O galo conseguiu um golzinho, mas tomou o terceiro de forma bisonha. Tipo gol de pelada.
Infelizmente, é preciso continuar batendo na mesma tecla. O elenco do Atlético é fraco. Não tem peças para reposição para alterar algo dentro de campo. É um time torto, cheio de improvisos. Vários jogadores já passaram do ponto. Outros não têm futebol para time protagonista. O Atlético passou a temporada dependendo do goleiro Everson, que salvou o time em dezenas de partidas. Caso contrário, a situação estaria bem pior. Até o Hulk, craque, artilheiro e ídolo, sofre com a falta de alguém para ajudá-lo. O balanço final da temporada dos três times da capital fecha no vermelho em termos técnicos.
Não ganhamos nada, nem experiência. Fomos eliminados na Copa do Brasil, nos torneios Conmebol e vamos rastejando no Brasileirão. Quem sabe será possível ganhar uma vaguinha para participar da próxima Sul-Americana. Na Copa do Brasil e no Brasileirão A e B estamos garantidos em 2025. Para os torcedores, sobrou ansiedade, sofrimento e decepção. Para os dirigentes, parece que o problema é mais suave. Os clubes arrecadaram bom dinheiro com bilheteria, patrocínios, direitos, venda de produtos, entre outros.
Ao que parece, as SAFs estão vitaminadas. Os donos são empresários e empreendedores bem qualificados, competentes e apaixonados pelos seus times. Que todos possam refletir um pouso sobre o trabalho que foi desenvolvido. Custo muito alto para um retorno técnico muito aquém do desejado.
Que possam investir com expertise na formação de elencos fortes, visando não só a próxima temporada, mas o futuro em médio e longo prazo. O futebol mineiro não pode se contentar em ser mero participante ou somente vice nas grandes competições nacionais e internacionais. Temos tradição e competência para grandes conquistas. Espero que em breve, quando perguntar cadê o troféu de campeão, não ouça novamente a triste resposta: O gato comeu.