O cenário econômico da capital mineira vem apresentando bons sinais com o crescimento do setor de comércio e serviços e a redução do desemprego. No entanto, um ponto ainda nos preocupa: a inadimplência. A recente pesquisa realizada por nossa entidade mostrou que a população entre 50 e 64 anos é a principal inadimplente da capital mineira, representando 23,36% dos negativados cadastrados no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Contudo, o grupo etário que deve o maior valor é o de pessoas entre 30 e 39 anos. A dívida média desse público é de R$ 6.161,44.
Esses grupos representam realidades distintas. Enquanto as pessoas entre 50 e 64 anos são, em sua maioria, os principais responsáveis pelas contas da casa, a população entre 30 e 39 anos está iniciando a formação familiar e possui débitos como, por exemplo, financiamentos estudantis e de carro. Esses são alguns dos motivos que levam essas pessoas a se destacarem no cadastro de inadimplentes da cidade.
O valor médio devido pela população de Belo Horizonte é de R$ 5.020 e, no geral, são registradas duas dívidas por CPF. No recorte por gênero, as mulheres representam o maior número da base de negativados. Entretanto, os homens devem um valor maior: R$ 5.293,71. Já a quantia média devida por elas é de R$ 4.944,36.
Notamos que a inadimplência entre os consumidores da capital mineira segue acima do restante do país. Durante o mês de abril, em comparação ao mesmo período do ano passado, o indicador nacional avançou 2,84%, enquanto em Belo Horizonte o crescimento foi de 4,11%. Contudo, quando se compara o desempenho da cidade com o Estado, Minas Gerais está à frente com um acréscimo de 4,41% no registro de CPFs negativados.
Esses dados nos mostram que muitos consumidores têm dificuldades em se manter fora dos cadastros de negativação. Dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do SPC Brasil apontam que em abril de 2024, do total de negativações, 84,52% foram de devedores reincidentes, isto é, que já tinham aparecido no cadastro de inadimplentes nos últimos 12 meses. O indicador ainda revela que o tempo médio entre o vencimento de uma dívida para outra é de 77,5 dias, ou seja: depois de 2,6 meses (em média) de ficar inadimplente, o consumidor volta a atrasar o pagamento de uma segunda conta.
O grande número de reincidentes mostra a dificuldade que os inadimplentes têm em sair dessa situação de forma definitiva. Infelizmente, o número de pessoas que retornam para os cadastros de devedores ainda é muito alto, sinal de que, mesmo com programas e incentivos, as negociações muitas vezes são feitas sem um planejamento adequado. Por isso, a recomendação é que, antes de negociar com o fornecedor, o inadimplente faça um levantamento completo da dívida, juntamente com uma programação realista de pagamento.
Sempre destaco a importância do controle dos gastos e do planejamento financeiro contínuo. Eles são necessários para que a capacidade de pagamento aumente, especialmente em um cenário de juros altos e uso do cartão de crédito como modalidade principal de pagamento.
A inadimplência é uma das grandes barreiras para o desenvolvimento econômico que precisamos superar. Por isso, além da autoconscientização dos consumidores, acredito que as políticas públicas e projetos de refinanciamento de dívidas, como o Desenrola Brasil, por exemplo, devem ser focados na origem do endividamento. É preciso buscar alternativas para melhoria da renda da população e, sobretudo, promover uma mudança de cultura financeira dos consumidores, onde a educação financeira seja priorizada.