Pela primeira vez, o Brasil foi escolhido para sediar a Copa do Mundo Feminina de 2027. A realização dos jogos em nosso país pode pegar carona em uma modalidade em ascensão e atrair investimentos, contribuindo para a profissionalização do setor. Na cola da popularização, o futebol feminino vem colhendo valores recordes de patrocínios, cotas de televisão, investimentos de federações, divulgações em veículos de imprensa em geral.
As cidades-sede e os estádios já estão escolhidos: Maracanã (Rio de Janeiro), NeoQuímica Arena (São Paulo), Mineirão (Belo Horizonte), Mané Garrincha (Brasília), Fonte Nova (Salvador), Castelão (Fortaleza), Arena Pernambuco (Recife), Beira-Rio (Porto Alegre), Arena Pantanal (Cuiabá) e Arena da Amazônia (Manaus). O palco principal será o Maracanã, que vai receber oito partidas, incluindo a abertura, prevista para 24 de junho, e a decisão, em 25 de julho, de acordo com o projeto apresentado à Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA).
O Maracanã será um dos estádios mais utilizados no torneio. Além dos confrontos que abrem e decidem a Copa, serão disputadas outras quatro partidas da fase de grupos, uma de oitavas de final e uma das quartas. Outros dois estádios receberão oito partidas. O Mané Garrincha terá cinco jogos da fase de grupos, um de oitavas, uma das quartas e uma semifinal. No Mineirão, vão ser disputadas cinco partidas na primeira fase, uma nas oitavas, uma nas quartas e a disputa do terceiro lugar.
O Mundial Feminino de 2027 vai aproveitar o legado da Copa Masculina de 2014. Dez dos 12 estádios usados no evento de dez anos atrás foram escolhidos para receber as partidas da competição feminina. Ficaram de fora apenas a Arena das Dunas, em Natal, e a Arena da Baixada, em Curitiba.
Segundo as empresas especializadas em estudos de esportes, a economia vem crescendo nos esportes femininos de elite, liderados pelo futebol, e devem gerar mais de 1 bilhão de dólares, cerca de R$ 5,2 bilhões em receitas neste ano em todo mundo. Isso significa salto de quatro vezes sobre 2021. A Copa do Mundo ser realizada no Brasil pode ter um papel fundamental. Pelos dados da Associação de Futebol da Austrália (FFA, na sigla em inglês), a Copa em 2023 gerou impacto econômico de 866 milhões de dólares para o país, coanfitrião do evento, junto com a Nova Zelândia. A expectativa é de que esse número cresça na 10ª edição do torneio, que acontecerá pela primeira vez na América do Sul.
Mesmo assim, especialistas dizem que há um logo caminho morro acima para reduzir as enormes disparidades em relação aos homens quando o assunto é dinheiro no futebol feminino. É um valor substancialmente menor do que o de uma Copa Masculina de Futebol. Os dados em comparação do feminino para o masculino são enormes, pois o orçamento anual dos maiores clubes femininos de futebol no Brasil tem uma média de R$ 4 milhões por ano. Isso equivale a cerca de 1% do destinado pelos clubes ao futebol dos homens.
A realização da Copa pode ajudar o futebol feminino no país a tirar o atraso em relação a mercados como Espanha e Inglaterra, que fizeram a final do último mundial, vencido pelas espanholas. Na Suécia, Estados Unidos e Japão, investimentos no futebol de base estão sendo desenvolvidos há vários anos. Consequentemente, todos esses países estão adiante do Brasil no ranking da FIFA de futebol feminino. O Brasil está em décimo lugar, com a Espanha na primeira colocação.
O sucesso individual de atletas como Marta (eleita seis vezes pela FIFA como melhor do mundo), Cristiane e Formiga, e o trabalho midiático, deram ao público a sensação de que a Seleção Brasileira poderia enfrentar outros países de igual para igual, o que nunca aconteceu. Na Copa de 2023, por exemplo, o time do Brasil foi eliminado na primeira fase do torneio.
A Copa no Brasil, em 2027, pode ajudar a atrair investimentos que fortaleçam o futebol feminino de base, com efeitos de médio prazo. Os estudos mostram que daqui uns oito anos, pode ficar algo mais significativo o fortalecimento e expansão do futebol feminino.
Na verdade, o investimento de federações no futebol feminino não vem subindo, até caiu, segundo dados da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Os estádios na maioria dos jogos realizados pelos Campeonatos Estaduais, Brasileiro e Copa do Brasil ainda ficam sem um grande público. Os patrocínios estão crescendo no setor que se firmou como um dos principais investidores do futebol brasileiro nos últimos anos, a indústria de apostas esportivas também está de olho nessa tendência.
As chamadas bets (casas de apostas eletrônicas) patrocinam 19 dos 20 clubes da série A do futebol masculino no Brasil, além das séries B e C. No conjunto, elas devem movimentar cerca de R$ 1 bilhão em 2024, segundo estimativas da Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL), que representa o setor. Porém, a fatia do futebol feminino neste bolo não chega a 1% do total.
Como jornalista e cronista esportivo, um entusiasta pelos esportes, a nossa torcida é para que a Copa do Mundo de Futebol Feminino seja bem organizada, sem abuso de recursos financeiros dos poderes públicos, onde o legado da Copa do Mundo Masculina de 2014 no Brasil deixou pouca realização positiva nas cidades. Foram bilhões de reais gastos à época com construções de arenas (estádios) entre outros recursos jogados pelos ralos, como exemplo os grandes estádios Maracanã e Mineirão, que tiveram suas capacidades reduzidas pela metade. O Maracanã comportava cerca de 200 mil pessoas e hoje no máximo 78 mil, enquanto o Mineirão tinha capacidade para 120 mil e atualmente até 63 mil pessoas.