Nunca tive problemas em aceitar religiões. Católico, por batismo, não praticante, confesso que qualquer local serve para fazer minhas orações. Conversar comigo mesmo ou com aquele que pode me ouvir, mesmo que fale bem baixinho. Só não aceito picaretagens envolvendo o santo nome do Senhor, seja em qualquer religião. Nunca dei dinheiro e posso afirmar que não tenho paciência para ouvir pregações, mesmo aquelas realizadas dentro da liturgia de casamentos. Como alguém que nunca se casou pode dar pitacos com relação a vida a dois? Mas voltemos à picaretagem religiosa.
A Justiça de São Paulo determinou, esta semana, o leilão de um templo da Igreja Mundial do Poder de Deus, do tal apóstolo Valdemiro Santiago, com seu chapelão ao estilo John Wayne e que vive na TV fazendo vaquinha para manter os seus luxos, como querosene para seu avião, vinhos e até para pagar salários de seus funcionários. A dívida que levou a Justiça a leiloar a propriedade é de R$ 881 mil, referente a aluguéis de outro templo na cidade de Ubatuba. Perdeu em todas as instâncias e a Justiça determinou a ação como a única solução para encontrar o valor.
O que chama a atenção é o valor do imóvel a ser leiloado no Bairro de Santo Amaro, zona Sul de São Paulo. Está avaliado em R$ 260 milhões, com capacidade para 20 mil fiéis, sendo 13.500 mil acomodados sentados. O templo tem ainda apartamentos, escritórios, salas, miniauditório e uma piscina. Tem um estacionamento para mil vagas de carros e outras mil motos. Foi inaugurado em 2014. Para se ter uma ideia, em cada “culto” realizado, se cada fiel doar R$ 1 serão arrecadados R$ 20 mil. Para bons matemáticos, basta multiplicar o número de cultos diários por semana e por mês e irão encontrar uma mina de ouro “em nome do Senhor”.
O templo é de dar inveja aos clubes de futebol. O terreno daria para construir um estádio e sua capacidade é um pouco menor que o Estádio Independência, que é muito maior que centenas de outros existentes pelo Brasil. A igreja do Valdemiro tem filiais (não sei ao certo se seria isto) em várias cidades. Aparece na televisão e foi frequentador do Palácio do Alvorada no governo passado. Aqui mesmo em Belo Horizonte, tem um templo nas proximidades da Praça da Estação, não com a suntuosidade do templo de São Paulo. Recentemente, funcionários de uma produtora de vídeo, de propriedade do pastor em questão, fizeram uma greve para receber salários. Ele apareceu na TV e nas mídias sociais pedindo ajuda financeira a seus fiéis seguidores. Parece que conseguiu levantar um troco. Iguais a Valdemiro existem dezenas de outros “apóstolos”, pastores e santos usando a palavra de Deus em benefício próprio.
Ricos e com benefícios do governo, não pagam sequer o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) de seus templos e fazem vista grossa para os bens materiais. Muitos têm fazendas, lojas, apartamentos e vivem como reis, graças a Deus. Pelo pouco que li na Bíblia, não era isso que Jesus pregava. Existe uma passagem que ele chega a um templo e vê logo na porta o comércio rondando e o dinheiro mandando em tudo, destruiu e mostrou irritação e fúria com os mercadores da fé. A igreja católica também passa por isso. O dízimo, em menor proporção, move a igreja. Prova maior está em Roma, onde o Vaticano, um dos menores países do mundo, tem a seu dispor um dos maiores Bancos, que assim como os demais, não está fora de escândalos financeiros. É o dinheiro sendo usado na religião, não importa qual, em nome da fé. Amém ou aleluia?