Home > Economia > Intenção de consumo das famílias é a maior desde abril de 2020

Intenção de consumo das famílias é a maior desde abril de 2020

Consumidores de renda mais baixa estão com perspectivas melhores / Foto: Valter Campanato

Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) registrou 93,9 pontos. No geral, houve um crescimento de 1,3% em janeiro, na comparação com dezembro, descontados os efeitos sazonais, e é o maior índice desde abril de 2020, logo após o início da pandemia de COVID-19. A perspectiva de consumo foi o item que mais cresceu na comparação mensal, na ordem de 2,7%.

O estudo aponta que os consumidores com renda de até 10 salários mínimos estão com mais disposição para gastar, com aumento de 1,9% na intenção de consumo em relação a dezembro e de 25,7% na variação anual.

O economista e especialista em finanças públicas, Gustavo Aguiar, explica que a confirmação da manutenção do programa de transferência de renda do governo, o Bolsa Família, tem refletido esse otimismo, sobretudo na classe de baixa renda. “Além do cenário de estabilização da inflação, principalmente nos preços dos alimentos, retomada do emprego e o aumento do salário mínimo, tudo isso tem gerado esse ânimo”.

Na outra ponta, as famílias que recebem mais de 10 salários mínimos pretendem reduzir seu nível de gastos, com queda de 1% na intenção. O economista destaca que em relação a esse grupo, a restrição e a alta do crédito no mercado são os motivos dessa piora de perspectiva. “O encarecimento dos serviços de modo geral também tem feito com que essa categoria esteja menos disposta a gastar nesse começo de 2023”.

O presidente da CNC, José Roberto Tadros, afirma que a inflação mais contida nos últimos meses tem beneficiado a renda disponível para gastos, a despeito do maior endividamento. “Esses dados indicam que as famílias em geral esperam melhores condições de consumo no futuro. De fato, desde outubro de 2022, a perspectiva desse índice tem se mostrado mais positiva do que a da compra propriamente dito”.

Na variação anual, a ICF aumentou 23,1% em janeiro deste ano, em relação ao mesmo mês de 2022. O maior destaque ficou com a perspectiva profissional, que teve alta de 25,1% em comparação com mesmo período do ano passado. Aguiar pontua que tudo indica que essa melhora do consumo das famílias de baixa renda e da classe média deve continuar por todo o ano de 2023. “Visto que esse índice é o melhor registrado desde abril de 2020, ou seja, desde o início da pandemia, isso mostra um ambiente de maior estabilidade econômica, de melhora real na renda dos brasileiros, da estabilização da inflação e também nos preços controlados pelo governo, como o combustível e a energia”.

Renda atual

Quanto à satisfação com a receita atual, houve avanço de 2% em janeiro, na comparação com dezembro, e 31,8% comparativamente ao mesmo período do ano anterior. Aproximadamente, 39% dos entrevistados afirmaram estar recebendo o mesmo valor de 2022, cerca de 35% tiveram melhora no faturamento e para 25,6%, a renda piorou.

Para o economista, desde o terceiro trimestre de 2022, estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já têm demonstrado que a renda média dos brasileiros teve um aumento em relação ao mesmo período de 2021. “Isso tudo reflete em uma melhor perspectiva dos consumidores em relação ao faturamento e também na geração dos novos postos de trabalho”.

De acordo com a CNC, a inflação geral mais contida tem beneficiado a renda disponível, mesmo com o maior endividamento das famílias. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado no ano passado aumentou 5,8%, enquanto em 2021  o índice havia registrado alta de 10,4%.

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores (Peic) de 2022, a proporção de endividados cresceu mais no grupo de maior renda, contudo a ICF se mantém otimista para essa faixa, com 107,7 pontos, uma variação anual de 15,1%. Aguiar acrescenta que as discussões internas do governo para as negociações das dívidas das famílias, refletem um otimismo. “Essa ação pode melhorar o poder de consumo da população para os próximos meses”.

Impacto na economia

Conforme Aguiar, essa retomada do consumo é muito importante para a economia, uma vez que ela é muito sensível a confiança dos investidores, do mercado e também das famílias brasileiras. “O Produto Interno Bruto (PIB) do país, que mede a produção de bens e serviços, é composto por três grupos: do consumo, dos investimentos realizados por empresas e dos gastos do governo. Então, para ter uma melhora no crescimento econômico, com geração de renda e emprego, é preciso ter um avanço no consumo”.

Para o economista, isso pode impulsionar o PIB de 2023. “Uma vez que a nossa taxa média de juros está alta, prejudicando os investimentos privados, é muito importante a melhora do consumo das famílias e dos gastos do governo para ter a concretização da retomada econômica, após o período da pandemia”.