Querer proteger os filhos dos perigos e riscos do mundo é da natureza dos pais, afinal, eles possuem um amor incondicional. No entanto, o excesso de zelo pode atrapalhar o desenvolvimento e aprendizado da criança e impedir que ela esteja preparada para as diversas etapas da vida. Essa superproteção também é ruim para as mães, podendo desencadear grande ansiedade e a síndrome do ninho vazio. Mas, então, qual seria o limite da proteção?
Para a psicopedagoga Tatiana Lopes, muitas vezes, os pais não percebem que estão exagerando nos cuidados e acreditam que vão tornar a vida dos filhos mais fácil. “Ter zelo é fundamental, mas é bom a criança desenvolver sua própria autonomia. Essa proteção exagerada cria um estresse e dificulta a lidar com os fracassos. Isso causa um amadurecimento tardio e gera reflexos na fase adulta”.
Ela diz ainda que a superproteção dos pais pode indicar um pouco de insegurança deles em relação aos filhos. “Eles não confiam no potencial da criança e não a deixa realizar as tarefas. O problema é que se os pais não acreditam nessa capacidade, como que o filho pode colocar fé em si mesmo? Tende a criar certo medo de encarar situações novas, bem como um distanciamento da realidade”.
Esse excesso de zelo é negativo, não somente nos pequenos, como também nas mães, alerta a psicóloga Ângela Pereira. “Elas sofrem com uma carga de ansiedade, pois vivem em função da criança, ainda mais se for filho único. Mais tarde, quando eles atingem a vida adulta e independência, elas podem vir a sofrer com a síndrome do ninho vazio”.
Quais os limites?
Ângela afirma que cabe aos pais ficarem de olho nas necessidades da criança quanto à alimentação, higiene e sono. “Mas também é preciso instigar a curiosidade e evitar fazer tarefas que sejam de responsabilidade dos filhos. Eles podem fazer sozinhos coisas como arrumar os brinquedos, a lição de casa, escolher sua própria roupa, etc. Eu sempre gosto de falar que não se cria um filho para si mesmo, e sim para o mundo. É necessário possibilitar à criança vivenciar as situações da vida”.
Você é superprotetor?
Têm comportamentos que podem indicar que os limites da proteção saudável foram ultrapassados. “Existem estudos que mostram que o problema é mais comum em pais tardios, adotantes ou os que tiveram um único filho. Mas isso não é regra e pode acontecer com qualquer um”, explica Tatiana.
A psicopedagoga lista alguns sintomas. “Pais que têm receio de deixar os filhos brincarem sozinhos com os colegas por temer que eles se machuquem ou que algo de ruim aconteça é um dos mais comuns. Preferem que fiquem no computador ou no videogame. Outro sinal é a mania de achar que só você sabe o que é melhor para seu filho, sem nem ao menos ouvir a opinião dele. Sem falar no medo de frustrar os filhos e não permitir que eles executem tarefas simples do dia a dia”, conclui.
Mãe desconfiada
A manicure Rafaella Guimarães é mãe do Bernardo, de 12 anos, e superprotetora assumida. “Todo mundo fala que eu sou paranoica, mas tenho medo de algo ruim acontecer”, relata. Ela diz que sempre teve esse cuidado com o filho. “Desde quando ele nasceu que eu que faço de tudo. Estou 100% presente em todos os momentos. Mas à medida que ele cresce, vai ficando difícil controlar demais. Recentemente, ele me pediu para participar de uma festa do pijama na casa do coleguinha. Acabei autorizando, mas ligava sempre para os responsáveis para saber se estava tudo bem”, finaliza.