Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) precisa apenas de um roteiro inicial para a sua instalação, no entanto, nos meses seguintes aos debates, tudo pode acontecer. O cenário muda de acordo com o vento mais forte, ora originando do Norte, ora vindo do Sul, sem muitos pontos pré-definidos. Nesse panorama, são discutidos fatos e temas preconizados na petição de origem, mas o desenrolar é algo quase imprevisível.
Para nós mineiros, são duas CPIs em andamento: uma a nível nacional, comandada pelo Senado Federal, e outra em curso na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). E, em ambos os casos, o mote central é a atuação das autoridades no combate a pandemia.
Na esfera do Legislativo mineiro, apura-se denúncias contra cerca de 2 mil pessoas, em sua maioria ligadas à área de Saúde e que teriam sido vacinadas indevidamente, desrespeitando o protocolo do Ministério da Saúde. Presidida pelo deputado João Vítor Xavier (Cidadania), a comissão tem ouvido diversos denunciados. Aliás, o primeiro efeito desse episódio foi a demissão do grupo da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), inclusive do então secretário da pasta, Carlos Eduardo Amaral. Contudo, surgiu um fato novo: o deputado Professor Irineu (PSL), de Contagem, foi imunizado de maneira imprópria em Betim. Isso trouxe ainda mais luz e polêmica no plenário da aludida CPI mineira. Agora, a população espera o rigor legal para os envolvidos sem que haja privilégios, como se traceja na democracia.
Já em Brasília, a CPI tem como finalidade fiscalizar possíveis omissões e equívocos do poder central na condução de uma política nacional com o objetivo de conter a disseminação da COVID-19, que atualmente, já matou mais de 400 mil brasileiros. No entanto, nos primeiros dias de funcionamento, o comitê instalado no Senado tem apontado, cada vez mais, para um viés político denotando uma espécie de desagravo por parte das oposições e da minoria do parlamento da Casa Alta. Isso tem levado o Palácio do Planalto a reagir de maneira drástica, aumentando o número de críticas aos demais poderes constituídos. Além do mais, e, de acordo com apurações feitas pela imprensa política do Congresso Nacional, a referida comissão é um ponto de apoio para alavancar os interesses, supostamente escusos, de muitos parlamentares do centrão, cujos integrantes, ironicamente, também fazem parte da base do governo. Em síntese, por enquanto, em Brasília, está instalada uma assombrosa Torre de Babel, sem luz determinada, podendo inclusive caminhar para uma escuridão sem precedentes.
No fim, deve-se deixar de lado as vaidades e os projetos pessoais dos integrantes dessas duas CPIs para que haja um foco na oportunidade de minimizar os efeitos da pandemia do coronavírus no Brasil, em Minas e, sobretudo, na vida de todos.