A microempresária (ME) Laysa Ramos, 30, dona de uma loja de locação de peças decorativas para festas, fechava, em média, 200 aluguéis por mês. Luciana Poli, 46, proprietária de um salão de festas em Belo Horizonte, alugava o local cerca de 12 vezes no mês. A confeiteira Bruna Ferreira, 36, costumava tirar apenas um fim de semana para ficar com a família, agora, passa todos. Três empresárias do segmento de festas e eventos que, em comum, viram seus faturamentos despencarem desde o avanço do novo coronavírus e o decreto municipal que, para tentar conter sua disseminação, proibiu a realização de aglomerações.
De acordo com o último levantamento divulgado pela Associação Brasileira de Eventos Sociais (Abrafesta), o mercado de festas e eventos movimentou mais de R$ 17 bilhões em 2018. Os dados também revelaram que a projeção era de um crescimento de 14% no próximo ano.
Esse mercado atrativo chamou a atenção da advogada Luciana que, neste ano, pediu demissão da empresa que trabalhava para se dedicar exclusivamente ao salão de festas que montou em 2015. “Entre meses com mais e menos eventos, a média mensal era 12. Até agora, tive prejuízo de cerca de R$ 15 mil com alimentos, bebidas e outros materiais adquiridos para realização das cerimônias que ocorreriam em março”.
Ela acrescenta que o que mais a assusta é a falta de receita. “Simplesmente não entra capital nenhum e não estamos conseguindo fechar novos contratos diante das incertezas futuras. Os clientes estão preferindo aguardar os acontecimentos para contratarem festas”, conta a empresária. Segundo ela, seu caixa está azul só até abril. “Vou conseguir honrar os compromissos neste mês sem ter que mandar funcionário embora. Mas a partir de maio, não sei. Tenho 6 pessoas que dependem 100% e várias outras complementam suas rendas por meio do meu negócio”, completa.
Também parada desde o decreto, Laysa, que trabalha no setor de locação de material decorativo há 10 anos, precisou pensar em novas soluções. “Desde o primeiro dia, estou me comunicando com os clientes e dando o apoio necessário para remarcar a data dos eventos. A maioria adiantou os eventos, não tivemos quase nenhum cancelamento. Para novos clientes, criei um voucher de desconto para futuras locações”, diz. Do governo, ela espera ações de socorro às ME’s. “Precisamos que as medidas tomadas para os microempreendedores individuais (MEI’s) e os de maior porte também cheguem a nós, já que não nos encaixamos nas que foram sancionadas”, ressalta.
Já Bruna enfrenta a segunda crise econômica. No início de 2014, fechou a loja de roupas que tinha devido à queda nas vendas e começou a vender bombons nas portas de escolas. A mudança de segmento trouxe bons frutos e, hoje, trabalha, como ela mesma define, “com tudo relacionado à festa, de salgados a personalizados”. No geral, a MEI realizava de 2 a 4 festas por fim de semana. “Para mim, que sou autônoma, foi muito brusco porque parou totalmente a entrada de verba. Só tinha ajuda das minhas filhas nos finais de semana”, conta.
Em meio às más notícias, pensou em formas de não zerar suas demandas. “Coloquei vários posts para as pessoas não adiaram as festas, e sim remarcarem. Mas, não alcancei o que esperava. Quando eu estava fazendo a montagem de uma caixa para uma festa, tive a ideia de fazer um minikit já que, normalmente, reuniões em família são pequenas”. Ela avalia o retorno como positivo. “Tive uma resposta boa. Mais de 20 pessoas perguntando como funciona e algumas fechando, já tenho um pedido confirmado e estou esperando dois fecharem”, diz.
A empreendedora deposita esperança de dias melhores com a chegada da Páscoa. “Estou apostando numa melhora porque é uma data esperada por todos. A ideia é montar kits com 3 ovos para cada integrante na casa. E, para chamar a atenção, fazer um preço melhor para os clientes que comprarem kits, ao invés da unidade”, planeja.