O Núcleo de Apoio a Bandas é um projeto da Orquestra Ouro Preto que visa capacitar músicos em diferentes cidades mineiras. A ideia é aperfeiçoar o conhecimento dessas pessoas e torná-las replicadoras em suas comunidades para que a história e tradição das corporações musicais não sejam esquecidas. Este ano a ideia chega a 4ª edição já tendo capacitado 400 regentes, professores e instrumentistas. Em 2020, o núcleo dará aulas em novos municípios como Lavras e Paracatu, em Minas, além de Icapuí, no Ceará.
Ao longo do ano, os músicos participam de consultorias, oficinas, palestras, atividades práticas e teóricas, tanto no que tange a prática musical, quanto à produção e capacitação de projetos para o fomento e a reestruturação das bandas. As atividades são gratuitas, prezando pela troca de experiências e o diálogo com maestros, músicos e lideranças das associações musicais.
O maestro Rodrigo Toffolo, que coordena o projeto junto com o músico João Paulo Moreira, explica que as aulas funcionam em encontros periódicos. “Músicos convidados ou vinculados à orquestra percorrem os distritos de Ouro Preto e diversas cidades do interior de Minas e do Espírito Santo, com uma metodologia exclusiva para bandas, visando o aperfeiçoamento de suas técnicas. O curso é dividido em módulos e acontece sempre aos finais de semana nas sedes das bandas”.
Os cursos e workshops do Núcleo de Apoio a Bandas são dirigidos a regentes, professores e instrumentistas das associações de bandas musicais, porém, o método utilizado também abrange crianças que estão iniciando nos instrumentos. “Em Brumadinho, o projeto atendeu, em 2019, quase 320 crianças. Para participar pedimos que um responsável pela banda entre em contato com a direção da orquestra pelo site. E, assim, vamos tentar viabilizar formas de atendê-los com presteza junto a patrocinadores e a sociedade civil”.
O maestro acrescenta que o projeto exerce um papel importante no propósito da orquestra de qualificar profissionais. “O núcleo possui uma função essencial no fomento às corporações musicais, uma vez que elas fazem parte de um dos mais relevantes bens culturais do país, principalmente no que diz respeito à formação de profissionais e de cidadãos por meio da música”.
Ele acrescenta que, apesar da importância dessas associações, a manutenção de suas atividades é feita com dificuldade, especialmente pela falta de apoio. “Por meio do Núcleo de Apoio a Bandas, a orquestra propõe estabelecer um diálogo com esses fazeres tradicionais, troca de experiências e sugestão de caminhos para a sua preservação”.
O mineiro e a música
Toffolo adiciona que a música faz parte da alma do mineiro. “Muitos não sabem, mas a escola de compositores de Minas, que data dos anos de 1700 e 1800, tem trabalhos marcantes e reconhecidos em todo o mundo. São artistas de primeira linha como os grandes Castro Lobo e Lobo de Mesquita”.
Na opinião do maestro, por estarmos no berço do Brasil Colônia, Portugal e seus costumes acabaram por contagiar toda nossa vida social. Normalmente, e a história diz isso, a riqueza acaba fomentando de alguma forma a cultura e a religiosidade. E assim como se produziu artes plásticas (escultura, pintura e arquitetura), foram feitas muitas músicas para as cerimônias religiosas e eventos especiais da corte portuguesa.
Por isso, Toffolo elucida que a música sempre esteve entrelaçada à mineiridade. “Esse nosso jeitinho acanhado, no final das contas, é uma forma de esconder uma alma em polvorosa para criar. E isso, séculos mais tarde, ainda é uma tônica criativa por aqui. Somos ligados a tradições, ao conhecimento passado por gerações, mas também olhamos para frente, acima das montanhas, para um horizonte de infinitas possibilidades”.