Num mundo em que o todo-poderoso Trump sonha com a hecatombe de uma nova guerra mundial, em que uma nação tão simpática como a Austrália está literalmente em chamas que já mataram dezenas de humanos e mais de um milhão de animais, até que a situação do Brasil não está lá tão péssima assim. O mais lamentável é que, aqui, a imbecilidade que campeia só aumenta dia a dia.
Além de um presidente da República que diz que nossos livros didáticos são péssimos “porque tem muita coisa escrita” (sic) temos um ministro da Educação que, além de não demonstrar a mínima educação ao se referir a entidades como a União Nacional dos Estudantes (“máfia e comuna que adora grana / vida fácil”) parece não ter concluído nem um curso primário e quer partilhar do poder de ser um mandachuva das redes sociais. Não é que o tal de Weintraub escreveu e repetiu “imprecionante” com “c” – isso mesmo – ao invés de “ss”. Não é nada demais para quem acumulou tantos zeros no seu primeiro ano de universidade, fato que justificou postando um vídeo no qual recorda que sofreu um acidente, teve que colocar parafuso no braço, ficou 6 meses sem poder escrever e só um professor o deixou fazer prova oral…
Quando, num avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que serviu de apoio a uma viagem de Bolsonaro à Espanha, foram encontrados 39 quilos de cocaína pura, o ministro de nome difícil justificou: “No passado o avião presidencial já transportou drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma”?
Ser antagônico aos dois ex-presidentes não é a questão. Pessoalmente fui e sou crítico, às vezes até ácido, dos governos do PT, mas não aceito a forma mal-educada de uma autoridade que deveria, pelo menos, honrar o nome do seu ministério e ter educação, ao invés de falar de forma rasteira como contando piadas chulas num botequim de esquina.
Neste difícil Brasil atual, sabendo que erros do passado servem de referência/advertência, temos que aprender a contestar. No caso do governo federal, os problemas se avolumam porque seu comandante não sabe escolher (com raras exceções) ministros ou auxiliares, e defende desatinos de filhos que, juntamente com ele, deviam – todos – aprender a pensar nas consequências antes de falar e, principalmente, parar de criar e caçar inimigos. Prosseguindo assim, perderá o apoio que é cada vez menor de gente que ainda gosta/venera o chamado “mito”, haja visto 1.957 presentes que recebeu recentemente, incluindo facas de todo tipo – curiosamente, nenhuma arma de fogo que é a preferência da família como demonstram fotos do filho Eduardo em visitas hospitalares.
Infelizmente, o capitão-presidente se tornou motivo de chacota mundial. Depois de críticas infundadas (para não dizer amalucadas) às mais diversas personalidades, desde presidentes da República e renomados intelectuais até atores filantropos e crianças que defendem a natureza, agora desistiu “por questões de segurança” de participar do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. Não sei se “por segurança”, mas, pelo menos, não haverá o “risco” de novo vexame como por ocasião do seu discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
Para quem possa achar que estou sendo duro demais com o presidente, me sinto no direito de resposta ao que ele disse há alguns dias no Palácio da Alvorada: “Acho que vou botar os jornalistas do Brasil vinculados ao Ibama. Vocês são uma raça em extinção. Por exemplo, eu cancelei todos os jornais no Planalto, todos, todos, não recebo mais nem jornal, nem revista”. E acrescentou que “envenena a gente ler jornal. A gente fica envenenado”. É no mínimo estranha a sua relação com os jornalistas.
Dias antes, irritado ou sei lá o quê, indagou sem querer responder a uma pergunta sobre a embaixada em Israel: “Você pretende se casar comigo um dia? Não seja preconceituoso! Você não gosta de loiro de olhos azuis? Isso é homofobia. Vou te processar por homofobia. Não admito homofobia! Você pretende se casar comigo? Responde! Não pretende”? Eu, hein!
Numa justa reação ao, digamos, “arroubo da extinção”, a Associação Brasileira de Imprensa divulgou nota na qual afirma: “O país e o mundo têm sido surpreendidos, a cada momento, por declarações estapafúrdias do presidente da República e dos seus auxiliares mais próximos”. E finaliza: “Enquanto a informação for uma necessidade vital nas sociedades modernas, e ela será sempre, o jornalismo vai continuar a existir. E, com certeza, sobreviverá por mais tempo do que políticos inimigos da democracia, que, estes sim, tendem a ser engolidos pela história”.
*Sergio Prates é jornalista
Reg. 1229 – MG / e-mail pratesergio@terra.com.br